Criança desobediente ou dgitada (hiperativa)?

sábado, 31 de julho de 2010

As pessoas perguntam o que fazer com alguém agitado (geralmente criança). Elas querem uma resposta objetiva. Anseiam por um remédio em forma de gotas, comprimido, supositório, injeção, para resolver logo o assunto. Querem algo concreto para acabar com o problema.

O ‘mundo moderno’ tem buscado soluções descartáveis, superficiais, sintéticas, feitas em laboratório, seja lá o que for, menos pensar da causa para o efeito. Quando nós, médicos, gastamos longo tempo numa consulta para explicar as causas do sofrimento do paciente e evitamos oferecer uma rápida consulta logo seguida de prescrição de medicamentos, alguns pacientes não gostam disso porque estamos tentando mexer na causa do problema, que pode ser mais complexa do que pensamos. Mexer na causa em geral envolve tocar em coisas difíceis de serem abordadas e mudadas no estilo de vida da pessoa. Estilo de vida envolve o que comemos, bebemos, a forma de falar, os pensamentos que nutrimos na consciência, como expressamos os sentimentos, hábitos de dormir, a prática ou não de exercícios físicos, etc. Mudar o estilo de vida pode não ser fácil. É mais fácil sair da consulta médica com a receita, ir na farmácia, comprar os remédios e ir para casa na ilusão de que eles curarão tudo.

Perguntas importantes a serem feitas quanto ao que fazer ao lidar com criança ou adulto agitado podem ser: Ocorreu nos parentes nas duas últimas gerações dessa pessoa acelerada? A maneira de pensar e agir deles pode ter contribuido geneticamente para a hiperatividade desse indivíduo? Foram (ou são) avô, avó, pai, mãe, pessoas agitadas?

Uma pessoa pode ser agitada no pensar mais do que nos movimentos do corpo. Ou pode ser muito acelerada nos pensamentos, com dificuldade de esperar o outro terminar de falar, atropelando as ideias da outra pessoa, pode estar com um ouvido na conversa e ao mesmo tempo com três pensamentos diferentes correndo pela mente. Ou podem ser aceleradas quanto às atitudes, tendo sempre urgência em ter que fazer algo agora, com dificuldade de ficar quieto, não relaxa o corpo, tem que estar usando os músculos numa tarefa.

Uma pessoa impulsiva em sua forma de pensar, ao ler esse artigo, poderá pensar assim: “Puxa! Eu tava crente que esse médico iria dar o nome do remédio para hiperatividade para eu comprá-lo já! Mas ele tá falando coisas que não entendo bem (ou não quero entender), em vez de falar logo o nome do remédio para pessoas agitadas!” Percebe a agitação mental nessa fala? Esta pode ser a mãe ou o pai de uma criança agitada.

Qual a diferença entre dificuldade de prestar a atenção e a hiperatividade? Dificuldade em prestar a atenção inclui: não colocar atenção nos detalhes, parece que não escuta quando falam com ela, falha em terminar tarefas, dificuldade em organizar tarefas, evita tarefas que exijam esforço, esquece de coisas que precisam ser levadas para a escola ou para casa, distrai-se facilmente, é frequentemente uma pessoa esquecida. Dificuldade com a hiperatividade inclui: não conseguir ficar sentado, correr ou trepar em coisas quando não devia fazer isto, não conseguir brincar sossegadamente, falar demais, interromper as pessoas frequentemente, fica irriquieto ou contorce-se quando sentado, dá respostas impensadas.

Um primeiro passo para lidar com crianças agitadas é perceber se e o quanto os cuidadores dela são agitados, na mente, no corpo, ou em ambos. Eles também precisam mudar. Um segundo passo tem que ver com o cérebro. É difícil ou impossível mudar um comportamento ruim tendo o cérebro intoxicado. Estudo na Universidade de Southhampton com 153 crianças de 3 anos de idade e 144 entre 8 e 9 anos de idade mostrou aumento da hiperatividade nas que usavam corantes artificiais junto ou separado com o corante de refrigerantes, benzoato de sódio. Eliminando corantes da dieta da criança, a hiperatividade diminuiu e voltou a aumentar usando-os de novo. Os corantes do estudo: amarelo crepúsculo (E110); amarelo quinolínico (E104); carmoisina (E122); vermelho alura (E129); tartazina (E102) e ponceau 4R (E124). Publicado na revista médica The Lancet, vol.370, issue 9598, pag.1560-1567, 3 nov 2007. Dar à criança alimentação natural, vegetariana, permite ao cérebro funcionar bem.

O pediatra doutor Sergio Spalter diz que crianças precisam se sentir seguras, confiantes e acolhidas. Mas, em vários momentos da vida não damos isto para elas, por causa de brigas do casal, nascimento de um irmão, pais superocupados, etc. A criança sente falta do aconchego, não sabe lidar com isto racionalmente, daí tende a manifestar esta falta com agitação, rebeldia ou adoece fisicamente sem causa, etc. Diante deste comportamento, os pais ficam nervosos e estressados ainda mais. Isto causa irritação na criança e aí o ciclo vicioso se completa. Erro! A referência de hiperlink não é válida.

Faz parte da solução o seguinte:

1) Acolha a criança, reservando um tempo diário, se possível, para ela.

2) Valorize as conquistas que ela fez, mesmo que pequenas demais segundo sua avaliação.

3) Tenha regras claras em casa, para organizar a disciplina. Explique o que pode e o que não pode ser feito. Estabeleça os limites.

4) Não se irrite quando a criança quebrar uma regra, gritando com ela. Não fale dez vezes que ela errou. Não seja cínico com ela. Aplique a regra, sem ficar nervoso e sem cara fechada.

5) Se ela quebrar de novo a regra, aplique a disciplina previamente combinada.

6) Depois da disciplina, não fique emburrado com a criança. Ao ser multado, por exemplo, por alta velocidade, ninguém fica emburrado com a gente o dia todo. Pagamos a multa e pronto.

7) Elogie muito a criança agitada quando ela fez qualquer coisa certo.

8) Evite encher sua casa com muitos bibelôs, porcelanas, vasos de vidro, pois crianças hiperativas tem dificuldade com coordenação motora.

9) Na sala de aula a criança hiperativa deve sentar-se longe da janela, de preferência na primeira fileira, para diminuir as distrações.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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