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Corrupção, impunidade e ... a Justiça vem!
quinta-feira, 04 de outubro de 2012
No jornal do Conselho Federal de Medicina, Nov/97, p.12, há uma matéria de um médico, oftalmologista, Renzo Sansoni, com o título “Eu, o Brasil e uma Tragédia”, o qual gostaria de compartilhar com você, leitor. Abaixo reproduzo esta história comovente a qual gostaria que sensibilizasse aqueles para quem ela aponta.
“Recebi, em meu consultório, um jovem de 30 anos trazido pela esposa numa cadeira de rodas. Já o tinha visto em outra época, há dois meses, numa sala de cirurgia, quando fui chamado a realizar, nele, uma reconstrução de pálpebra superior. Este jovem homem estava sob anestesia geral, com o neurocirurgião abrindo sua cabeça na busca de um projétil de arma de fogo: um estrago enorme e apavorante. Sua história? Motorista de carro-forte, transportava dinheiro. Maldito e bendito dinheiro. O carro foi assaltado por ladrões sanguinários e cruéis. No lance, dois ou três tiros atingiram-no nos braços, no olho e na cabeça. Balas que mudaram a vida para sempre, e para bem pior. E os bandidos foram embora, deixando para trás uma pesada e intransferível dívida espiritual. Mas isto não é o relevante no momento. O urgente e o inadiável estavam ali, naquele ambiente cirúrgico. Do lado de fora de fora, aguardando a esposa, os pais e parentes, reunidos pelo sofrimento, angústia e revolta.
Não existe situação humana mais desoladora do que ver alguém com a cabeça aberta e sangrante, olho perfurado e vazando, caminhando para a morte ou invalidez. Nesse momento, como médico e cidadão, desejei que ali estivessem, naquela sala de cirurgia, para pleno testemunho de uma enorme desgraça individual (e coletiva), o nosso Presidente da República, ministros de Estado, senadores e deputados, todas as autoridades do Poder Judiciário, toda a imprensa e todas as lideranças desta nação. Porque ali estava o Brasil nu e cru, o Brasil do cotidiano, O Brasil da insensatez, o Brasil da insegurança, o Brasil do Terceiro Mundo, o Brasil nojento, o Brasil que precisa mudar – e mudar radicalmente. E o Brasil estava deitado ali, naquele berço cirúrgico, nada esplêndido, impotente, entubado, inerte, com seu destino entregue às mãos alheias, com a morte e a paralisia impacientes para entrar em cena. Horas de suplício e de meditação para nós, médicos. E que poderiam ser as melhores horas para que os dirigentes deste Brasil fossem envolvidos e invadidos pelo senso de responsabilidade plena com os valores essenciais da dignidade humana. Saúde, educação e segurança. Naquele momento, naquela situação e naquela tragédia, aquele homem, aquele funcionário, aquele brasileiro, aquele ser humano, aquele paciente era o Brasil encarnado, palpável e neoliberal. Passavam por ele toda a fragilidade nacional: saúde, educação e segurança. Desejei muito que as referidas autoridades acompanhassem todo o processo enfrentado por aquele Brasil/homem/funcionário, desde o momento da catástrofe, seu encaminhamento para o hospital, a notícia para os familiares, as dificuldades cirúrgicas, os vários dias na UTI, a luta entre a morte e a paralisia, o definhamento do corpo físico, a angústia do espírito, a alta hospitalar, a chegada em casa no lar muito pobre, a duríssima realidade da cadeira de rodas, a impotência sexual, a impotência financeira, o choro da mulher e dos filhos, a consciência de uma invalidez para sempre. Oh, Deus! Onde estás que os homens de Brasília não Te acham e nem Te procuram?
A esposa, ao término do exame, pede ajuda ao segurança do hospital para levar o marido até o táxi, sabendo da cegueira e paralisia definitivas. De minha parte, a desilusão de mais uma tragédia caminhando para o anonimato; enquanto precatórios, roubalheiras e alicantinas políticas comovem mais a opinião pública no país das chuteiras e da cachaça. O salário da vítima era de 350,00 por mês; de agora em diante, sob a guarda que restou da Previdência, dependendo de perícias e burocracia, o soldo será de 120,00 mensais. A firma arruma outro motorista, a vida continua, os companheiros se afastam e está tudo dentro da normalidade tupiniquim. O leitor chorou, certo? Mas o que resolve mesmo, para salvar o Brasil, é destruir, para sempre, a corrupção e a impunidade.”
Isso é possível? Não, porque as urnas não têm poder para mudar o caráter das pessoas que lideram nosso país. O Brasil, e o mundo, sofre de um problema de doença do caráter. Em qualquer órgão público, se você procurar, vai encontrar corrupção. Onde jogar luz, surgirão trevas morais. A mídia mostra só um pouco, só o que lhe interessa. Já estudou a questão da tese-antítese? Uma instituição ou líder social ataca outra instituição ou líder social, mas há um acordo feito por debaixo da mesa entre estes supostamente inimigos. É pior do que pensamos. É mais vergonhoso do que conhecemos. Uma podridão. Cinismo generalizado. Impunidade que dá náuseas. Por que o povo vota num corrupto? O pior está por vir. Solução: faça sua parte contra a corrupção. E espere porque a Justiça virá. Estes caras corruptos não têm paz. Tem poder, dinheiro, influência, mas não têm paz. Vão morrer cheios de angústia, porque insistentemente rejeitaram a verdade. Não há remédio humano para a doença de caráter da liderança executiva, judiciária, legislativa, empresarial, eclesiástica do Brasil corrupto. O fim está próximo. Estes corruptos pedirão, apavorados, que as pedras caiam sobre eles e os escondam da face da Justiça (com j maiúsculo). Há um limite para o mal. Você está sendo filmado. A loucura mental (psicose) é mais saudável do que a doença de caráter deles.
Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
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