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Controle emocional: o que é isso?
quarta-feira, 06 de agosto de 2014
As pessoas estão conectadas com o mundo. Aprendem balé, inglês, espanhol, capoeira, judô, etc. Aprendem a administrar uma empresa ou instituição do governo, gerenciam bem sua vida financeira, mas não aprendem a controlar a si mesmas do ponto de vista emocional. São descontroladas emocionalmente. Por que este descontrole?
Alguns argumentam que receberam uma carga hereditária de um pai ou de uma mãe que eram (são) descontrolados emocionalmente. Não podemos culpar a genética porque a herança dos pais para os filhos atinge, no máximo, entre 30% a 50% do que somos como pessoas do ponto de vista comportamental. O resto é influência do que foi aprendido na infância, do meio cultural e da própria sensibilidade do indivíduo que faz suas escolhas.
As pessoas chamadas "normais” vivem o dia a dia da vida mental individual no "automático”, ou seja, fazem as coisas como que completando tarefas e dificilmente se dão conta de que e como estas práticas das tarefas envolvem emoções, e do que é exigido delas para lidar com os sentimentos nos relacionamentos. Elas parecem viver no foco. Viver no foco é diferente de ter uma atenção flutuante. Atenção flutuante é você pensar em alguns detalhes. Como assim?
Outro dia, escrevi aqui uma matéria que falava no que você pensa enquanto aperta o tubo da pasta de dente. A pessoa chamada "normal” pensa em outra coisa enquanto coloca creme dental na sua escova. Ela não fica pensando na escova ou no creme dental ou na limpeza dos dentes. Isto é viver no foco, colocar o creme dental na escova de forma automática.
Já a pessoa que exerce atenção flutuante em alguns momentos da vida focaliza vários fatores que influenciam o seu comportamento. Ela está mais consciente do seu mundo interno. Ela pode estar conversando com alguém chato, ouvir a conversa com respeito e pensar ao mesmo tempo: "Puxa, como esta pessoa é desagradável, mas vou exercer paciência com ela agora”. Ela faz isto, ela consegue isto, porque está mais aberta para o geral do que ocorre na vida, isto é, ela consegue olhar para o outro (realidade exterior) e consegue, ao mesmo tempo, olhar para dentro de si (realidade interior), e entender o que sente.
E esta melhor capacidade de lidar com estas duas realidades não depende de cultura, de formação universitária, muito menos de poder econômico. Depende de uma sensibilidade para com a vida, que parece ser algo inato e também desenvolvido ao longo da vida. É possível aprender isto.
Então, a pessoa sem controle emocional parece focada. Ela olha só para o seu umbigo. Crê, inconscientemente, que os outros estão ali para ela. Tem estabelecido que seus parentes próximos (marido, esposa, filhos) estão na vida para ela. Daí isto pode aparecer com, por exemplo, ficar muito irritada quando alguém não faz por ela algo que ela deveria fazer por ela mesma. Mesmo que seja uma pessoa autônoma em termos de trabalho, pode ser dependente em termos de afeto.
Para aprender a lidar com suas emoções, é importante, portanto, sair do foco e entrar numa visão mais ampla de si mesmo, da vida, dos outros, do ambiente. Será que funcionar assim é mais normal? Não são muitas pessoas que fazem isto. Uma pena e uma complicação para os relacionamentos, eu diria.
Quando uma pessoa dá um passo para se dispor a sair da zona de conforto egocêntrica (chamada de "normalidade” pela cultura) em que vive no foco, ela até pode perder dinheiro, mas ganhará muito em qualidade de vida e autocontrole porque aprenderá a estar mais consciente de suas emoções. Verá que outros também têm sentimentos, entenderá que a vida é mais do que os outros estarem lá para ela, e que as pessoas não são office-boys para ela.
Controle emocional tem a ver com o aprendizado de ter este olhar mais amplo, aprender a lidar com as frustrações, desenvolver paciência, ajudar as pessoas de graça, tolerar sentimentos desagradáveis com paciência, crendo e aprendendo que eles mudarão em algum momento. Aprender que o que é bom, passa. Mas o que é ruim (do que você está sentindo) também passa. Como se adquire controle emocional? Fazendo diferente do habitual. Lutando contra o padrão ou tendência básica de funcionar como vinha atuando, e tomar atitudes diferentes com a consciência de que será melhor para um desenvolvimento pessoal. Parar de ficar usando as pessoas, lutar contra a crença pessoal de que tem que tomar remédios "controlados” para ter controle emocional, parar de ficar culpando as coisas e as outras pessoas pelo seu descontrole. Cultivar gratidão, acabar com ressentimentos, se envolver em trabalho filantrópico voluntário, interromper pensamentos destrutivos que brotam na mente e escolher melhores pensamentos. E sentar no banco do carona, deixando o Criador dirigir sua vida, abrindo, assim, mão do controle.
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Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
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