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Compreendendo o suicídio
A cada 40 segundos uma pessoa se suicida no mundo. Ao você terminar de ler este parágrafo uma pessoa terá se matado em algum lugar deste mundo. Pessoas se suicidam porque a vida para elas se tornou insuportável, sem saída, sem significado, porque predomina a dor na realidade delas, vivida como sem opção. O suicida não quer morrer, mas não quer a vida que para ele está insuportável. Daí o suicida crê que o jeito é desligar seu viver atual que para ele já é um não viver. É uma vida-morte. Então ele prefere morrer.
Anualmente 30 mil pessoas se matam nos Estados Unidos, ou seja, uma pessoa se suicida a cada 18 minutos na primeira potência do mundo. O suicídio é a 11a principal causa de morte nos Estados Unidos. Quatro homens morrem por suicídio para cada mulher, mas pelo menos duas vezes mais mulheres que homens tentam o suicídio. Cerca de 80 norte-americanos se matam todos os dias. O número de suicídios de homens brancos entre 15 e 24 anos triplicou desde 1950. O alcoolismo é um fator em cerca de 30% de todas as mortes por suicídio. Cerca de 7% das pessoas dependentes de álcool vão se suicidar. (Fonte: Scientific American, março de 2003).
De 60 a 90% dos suicidas sofrem de Transtorno Afetivo Bipolar, que pode levar a pessoa a extremos de euforia e depressão, e na depressão, levar à morte. Os fatores deste transtorno são ligados à hereditariedade, as experiências traumáticas na vida, estresse agudo, fatores psicológicos doloridos, sensibilidade pessoal muito forte para questões emocionais, facilidade de ter pensamentos negativos e de desesperança.
Autópsias de pessoas que se suicidaram mostram alterações anatômicas no córtex pré-frontal orbital (acima dos olhos) e no núcleo rafe dorsal do tronco cerebral. Isto parece ser responsável pela capacidade reduzida de produzir e usar a serotonina no cérebro. Parece que a serotonina produzida no núcleo da rafe dorsal é em pequena quantidade e o que chega no córtex pré-frontal é insuficiente para melhorar o estados de humor da pessoa suicida.
Ainda estão sendo feitos estudos sobre a diferença e motivações sobre o suicídio. Tem pessoas que se preparam para se matar, deixando bilhetes, testamentos e até seguro-funeral, enquanto que outras se matam inesperadamente, numa decisão péssima num dia péssimo.
Vários estudos revelaram a falta de serotonina no cérebro de suicidas, mas outros não, e também havia alguns com falta de serotonina numa parte cerebral e em outras não. A maior parte das investigações científicas aponta para o sistema da serotonina no cérebro como o fator principal ligado ao suicídio. Mas ainda precisam mais estudos.
Os antidepressivos são os medicamentos utilizados nas pessoas com depressão, mas algumas pessoas que se suicidam, o fazem mesmo estando em uso destes medicamentos. Estudos indicam que os filhos de pessoas que tentam o suicídio têm um risco seis vezes maior de se matar que os filhos de pais que nunca tiveram esta intenção.
Afinal, que dor emocional é esta que o suicida sente que lhe parece insuportável? Que tipos de pensamentos tão pessimistas e de desesperança que eles nutrem e originados em que tipos de perdas, reais ou imaginárias, que eles se concentram, que fazem sua mente ficar tão nublada, tão sem cor, tão sem sentido o viver, que o único sentido é o nada: a morte? Cada um tem sua história pessoal e algumas delas talvez nunca serão perfeitamente compreendidas nessa vida.
Se você está pensando em suicidar-se, pense que há saída mesmo que você não a veja e não acredite que ela exista. Existe. Seu estado de humor neste momento não pode ser o padrão para seu julgamento da realidade porque seu cérebro está neuroquimicamente comprometido. Há um circuito cerebral com defeito produzindo ideias suicidas. Mas você pode pensar. O que é bom passa. Mas o que é ruim, também passa. Pense nisto. Não olhe para seus sentimentos de desesperança. Se abra com alguém. Telefone para alguém e fale do que sente. Peça ajuda a um parente, amigo, médico, psicólogo, líder espiritual. Não fique sozinho nas horas de mais pressão dos pensamentos suicidas. Saia de casa e vá conversar com alguém. Faça uma oração pedindo ajuda a Deus. Isto também vai passar. E se não há como restituir o que você perdeu, há com certeza a possibilidade de você se adaptar à perda de maneira que ela não será tão dolorosa o resto de sua vida. Isto é verdade. Acredite.
Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
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