Como convencer meu familiar de que ele é alcoólico e precisa de tratamento?

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Parte 2 de 3

Essa é a segunda parte, de um total de três, onde estamos analisando sobre o que fazer quando você convive ou tem algum relacionamento com um familiar ou amigo íntimo que rejeita a idéia de ter problemas com bebidas alcoólicas, sendo de fato um alcoólico.

2) O alcoólico só mudará quando ele desejar mudar, quando decidir querer ajuda e começar a dar os passos para a recuperação. E talvez só desejará mudar quando chegar a um fundo de poço.

3) O familiar do alcoólico deve pensar em três “c”: a) eu não Causei isto (o alcoolismo); b) eu não posso Curar isto; e c) eu não posso Controlar isto. Se ficar achando que causou (“Será que não fui boa esposa?”, “Será que não sou boa filha?”, “Será que não fui boa mãe?”, “Fui um pai ruim?”, etc.) a tendência é querer expiar a culpa e proteger o doente, o que perpetua e pode agravar o problema. Se achar que pode curar, vai entrar num estresse danado porque não vai conseguir, se desgastando demais sem resultados. E se achar que pode controlar (jogar bebida fora, misturar com água, pagar contas que o alcoólico não paga, etc.), vai também ficar numa irritação, impaciência, estresse sem fim.

4)Tanto o alcoólico quanto o familiar dele, ambos necessitam de ajuda. O alcoólico pode precisar de ajuda médica, além da psicológica, e o familiar precisa de ajuda psicológica. Por quê? Porque a doença do alcoólico é o descontrole sobre a ingestão de bebidas alcoólicas com as consequentes complicações, como doenças físicas (neurite, polineurite, doenças do aparelho digestório, má nutrição, cirrose, etc.), psicológicas (problemas graves na família, no casamento) e sociais (perda do emprego, faltas ao trabalho, acidentes de trânsito ou outros, etc.). O familiar precisa de ajuda porque em geral quer controlar tudo, e acaba deixando sua própria vida de lado para ficar cuidando de alguém ou querendo controlar alguém que pode não querer tratamento ou não querer neste momento da vida. A droga do alcoólico é o álcool, e a droga do familiar do alcoólico é o controle. Então, o alcoólico precisa admitir que perdeu o controle sobre o álcool para, finalmente, iniciar um tratamento, enquanto que o familiar do alcoólico precisa entender e perceber que está querendo controlar o incontrolável: a vida e as escolhas de outra pessoa adulta.

5) Quanto ao tratamento, o alcoólico pode procurar os Alcoólicos Anônimos (segundo o Dr. George Vaillant, professor de psiquiatria da Universidade de Harvard, autoridade mundial em alcoolismo, os AA são responsáveis por cerca de 40% da recuperação de alcoólicos no mundo), ou um médico (geralmente psiquiatra) especializado em dependência química e receber ajuda. Dependendo do nível do alcoolismo, do comprometimento físico da intoxicação alcoólica, ele poderá necessitar de internação hospitalar por uns dias para desintoxicação e outros cuidados médicos, para depois integrar-se num tratamento que poderá ser com o psiquiatra ou psicólogo clínico com experiência em alcoolismo e/ou com os AA. Muitos entram em recuperação ao participarem dos grupos de Alcoólicos Anônimos sem necessidade de tratamento médico ou psicológico.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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