Aprendendo a lidar com pessoas explosivas

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Você vive com alguém com temperamento explosivo? Tem dificuldades com um colega de trabalho ou patrão impulsivo e um tanto abusivo verbalmente? Existe alguma maneira de você se proteger do estresse causado por conviver com alguém com tais características? Sim, existe. Vamos ver agora.

É comum pessoas com tendência a tolerar abusos se unirem com indivíduos abusivos, ou "espaçosos”, aqueles que desligam (ou não têm) o "desconfiômetro”. Isto estressa mais ainda quando você fica pensando que é culpado pelo outro ser duro nas palavras, trazendo para si a responsabilidade de mudar, regular ou controlar os exageros do comportamento dele/dela. 

Estas pessoas impacientes e irascíveis parecem ter uma exigência interna no sentido de que todos ao redor devem fazer o que ele/ela quer na hora que ele/ela desejar. Se o semáforo fica verde e o carro da frente demorou três segundos para partir, este indivíduo impaciente mete a mão na buzina, soltando um palavrão! Você pode crer que esta pessoa age assim porque está chateado com você, com algo que você possa ter dito ou feito, ou que não deveria ter dito ou feito. Daí surge culpa em sua consciência. E para corrigir a culpa, o que é que pode ocorrer na mente da pessoa que convive com um indivíduo explosivo? Tentar reparar a culpa! E isto pode ser feito de várias maneiras, como procurar palavras que acalmem o "nervoso” da pessoa, falar mais baixo, puxar assunto "interessante” para desviar a ira do impaciente, etc.

Mas esta é uma culpa falsa. Com estas atitudes explosivas, palavras duras, comportamento irritadiço, esta pessoa não está dizendo que você é a culpada. Ela está dizendo que ela não tem equilíbrio emocional, ainda que não admita isto se você for tocar no assunto. 

Neste caso você pode aplicar os chamados 3 C (ensinados pelos grupos Al-Anon). Eu não causei isto (a impaciência, o nervoso, a explosão temperamental do indivíduo), não posso controlar isto e não posso curar isto. Estas pessoas explosivas têm este tipo de comportamento porque é um perfil delas. E se você entender bem isto, verá que não tem culpa alguma sobre a maneira como elas se comportam. 

Caso você conviva com alguém assim e viva se culpando e tentando "amenizar” as coisas, não precisa mais fazer isto, não precisa mais se culpar. Quando vier à sua mente a sensação de culpa diante de um "ataque” ou forma dura de falar do outro, pense: "Eu não causei isto! Não posso controlar isto! Não posso curar isto!” Se concentre nestas frases. E despreocupe-se de ter que encontrar uma forma de acalmar a pessoa. Deixe de assumir a responsabilidade pela maneira como ela expressa o temperamento dela.

Pouco a pouco você irá verificar que esta pessoa explosiva parece não se incomodar com o jeito rude ou "bronco” dela ser. Você poderá perceber que ela poderá explodir e em seguida agir como se nada tivesse ocorrido. E pode nem ligar para a maneira como você age com ela, seja no modelo antigo de culpa (falsa), que levava você a tentar "consertar” as coisas, seja no modelo novo e saudável de não assumir a responsabilidade pela maneira dela expressar o temperamento.

Quando você se sentir mais confortável com a nova postura de deixar a pessoa ser como ela pode (e quer) ser, e se proteger, abrindo mão do controle, não trazendo a coisa pessoalmente, daí você se sentirá aliviado. E também você poderá adquirir coragem de dizer a ela que explosões de temperamento são coisas que lhe incomodam. Se a pessoa vai ouvir ou não, se ela vai dar uma olhada para si mesma e admitir seu jeito bronco de ser ou não, se ela vai mudar ou não, pelo menos você também terá conseguido falar. Você tem o direito de falar. E falar é um primeiro passo para colocar limites para pessoas sem desconfiômetro.


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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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