A saúde de que o povo precisa é educação - 21 de outubro.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Pessoas são eleitas para prestarem serviço à população, como vereadores, prefeitos, deputados estaduais e federais, governadores, senadores e presidente da República. O povo paga o salário destes indivíduos. O que deveriam estes indivíduos fazer para beneficiar a saúde da população?

Um estudo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) em 2010, mostra que o problema da corrupção no Brasil deve ser urgentemente combatido. A cada ano, perde-se em média de 41 à 69 bilhões de reais em corrupção. É quase 2,5% do PIB. Um dinheiro que sai no ralo da corrupção e que daria para equipar hospitais do SUS (Sistema Único de Saúde). A quantidade de leitos para internação, hoje em torno de 370 mil leitos, aumentaria em 89%, permitindo conseguir mais de 327 mil novos leitos.

Como anda o PSF – Programa de Saúde da Família – no seu município? Funciona? É um programa muito bom, que promove a interiorização da medicina, e pode ser bem melhor se atuar em prevenção. Se não funciona em seu município, o que ocorre? A prefeitura sabota? Os vereadores compreendem a importância para a população do PSF? Dão apoio? Ou desconhecem o que é o PSF?

Em 2004 a Polícia Federal desarticulou um esquema que desviava recursos do Ministério da Saúde há 14 anos! Imagine, um grupo de corruptos roubando durante 14 anos, manipulando licitações para a compra de medicamentos e derivados de sangue para tratar hemofílicos! Desviaram mais de 2 bilhões de reais, nesta operação chamada de Vampiro pela Polícia Federal.

Dois anos depois houve o escândalo no Congresso, quando aliciadores agindo em união com parlamentares forçavam emendas de compras de ambulâncias superfaturadas no Orçamento da União. A operação chamada de Sanguessuga causou a compra de mais de mil ambulâncias superfaturadas em até 260% do valor normal do veículo. Isto ultrapassou 110 milhões do recurso público.

Fatos revoltantes de corrupção que ocorrem desde níveis como uma Prefeitura até o Congresso Nacional, adoecem a esperança do povo. Deprimem. Enraivecem. Geram um cinismo social, um acostumar-se com a maldade como se fosse normal. A maldade não é normal. Na verdade, ela destrói quem a pratica.

O que o povo precisa em termos de saúde? Mais hospitais? Mais camisinhas? Mais vacinas? Mais anúncios de “beba com moderação”? Não! Segundo o banco de dados do SUS (DataSUS), no início da década de 90, cerca de 6,2 brasileiros eram portadores do vírus da Aids para cada 100 mil habitantes. Em 2005 esse número já estava em 15,1. Anita Leite, jornalista, diz: “Embora os governos disponibilizem preservativos e medicamentos que prolongam a vida dos portadores de HIV, a transmissão do vírus não será refreada sem uma reeducação dos portadores”. (Vida e Saúde, Set 2010, p.18). Ela cita Osvaldo Theodoro, especialista em saúde pública: “A falta de educação em saúde, ou seja, o trabalho de promoção da saúde é o que precisa ser suprido pelos governos. Não basta curar. É preciso ensinar ao indivíduo o viver saudável. A população brasileira não precisa de tratamento de doença, precisa de tratamento de saúde.”

O Brasil precisa administrar melhor doenças comuns do subdesenvolvimento e já tem que lidar com doenças comuns de países desenvolvidos, como o diabetes, que em um ano matou mais de 45 mil pessoas, quatro vezes mais do que a Aids (DataSUS 2006).

Precisamos de ações preventivas para tentar diminuir o avanço das doenças crônicas. Políticos que só falam em construir hospitais e UPAs sem falar de programas de educação em medicina preventiva, estão equivocados na ideia de melhorar a saúde da população. Um hospital de câncer, por exemplo, não conseguiria ajudar tantas pessoas como o PSF. Por que o PSF não existe ou não vai para a frente em certos municípios se ajuda grande parte da comunidade?

A feliz queda da mortalidade infantil nas últimas décadas se deve muito à medidas preventivas simples, como cuidados pré-natais, escolaridade das mães e amamentação. Em 1970 a taxa de mortalidade infantil no Brasil era de 120,7 para cada mil nascidos vivos. Em 1990 caiu para 52,04 e em 2010 para 19,88. Apesar desta melhora, ainda estamos no 90º lugar no ranking mundial. Em Cuba morrem menos de seis recém-nascidos para cada mil. A menor taxa é em Singapura, 2,31. No Japão, 2,79; Cadaná, 5,04; Estados Unidos, 6.26. Os piores índices estão em Angola, 180,21; Serra Leoa, 154,43; e Afeganistão, 151,95. Na América do Sul, o melhor colocado é o Chile, com 7,71, seguido de Uruguai, 11,32, e Argentina, 11,44. (http://www.indexmundi.com/g/r.aspx?v=29&l=pt)

A Lei Seca, após dois anos em vigor, reduziu em 6,2% as mortes de trânsito no Brasil. No Rio de Janeiro, caiu em 32%. Veja como programas de educação e medicina preventiva têm resultados! Isto não interessa a certos grupos empresariais e políticos que desviam verbas da saúde para seus bolsos, não fazem nada ao seu alcance para educar o povo em saúde e sabotam programas que funcionam bem, como o PSF. São eleitos e reeleitos. Como aguentar isso? Educar, educar, educar o povo. Educação é uma saída.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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