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A Força e a Fraqueza de Cada Um: Somos Parecidos? - 10 de março 2011
O que é uma pessoa forte emocionalmente? O que é uma pessoa fraca emocionalmente? Forte é a que trabalha muito e fraca é a que trabalha menos? Forte é a pessoa agressiva e fraca é a gentil? Forte é a que usa sempre a razão e fraca é a que usa mais a emoção? Forte é a independente e fraca é a dependente?
Indo ao ponto, a pessoa realmente forte emocionalmente é aquela que consegue controlar seus sentimentos ao invés deles a controlarem. Forte é a pessoa que pode ter emoções, mas não deixa que as emoções a tenha. Fortaleza emocional é um alvo, e, como a saúde em geral, ela é um processo. Você pode estar nele ou não. Depende do que faz consigo mesmo e com sua vida mental agora.
Uma pessoa, por exemplo, impulsiva, que primeiro faz para depois pensar se devia ter feito, que primeiro diz para depois pensar se devia ter dito, parece fraca em autocontrole, mas pode ser forte na espontaneidade do que sente e pensa. Em geral não esconde o que é. O impulsivo geralmente precisa de alguém perto que tenha a característica de ser mais racional. Então, quanto ao controle da emoção, o impulsivo é fraco, e quanto a sentir a emoção, o racional é fraco.
Marido e mulher podem ter uma espécie de acordo inconsciente desde que se casaram que funciona mais ou menos assim: ele é a razão, e ela é o sentimento. O marido (ou a esposa) pensa pelos dois e a esposa (ou o esposo) sente pelos dois. Quem é o forte e quem é o fraco neste caso? Ambos podem ter ambas características. O racional pode ser forte em controlar a emoção e, por exemplo, administrar melhor as finanças da família, porque não gasta por impulso. O emocional pode ser forte porque experimenta sentimentos que a família necessita viver, e assim pode dar um colorido ao relacionamento que a pessoa racional não sabe dar. Num casal nem sempre o mais emocional é a mulher.
Um problema que ocorre em muitos casamentos, entretanto, é que um dos dois (esposo ou esposa) pode viver o dia-a-dia da vida afetiva esperando que o outro esteja lá para ele. Este “estar lá” é como se o cônjuge fosse sua única âncora que dá segurança. Isto pode ser um problema pois pode gerar dependência ruim. E é algo mais comum do que se pensa entre os casais. A solução é este um que espera que o outro esteja lá para ele, aprenda a ficar mais saudavelmente independente, sem ficar esperando sempre pelo outro (amar, beijar, elogiar, acompanhar, conversar, transar, etc.). Aliás, o que é mais saudável: ser independente ou dependente? Existe alguém totalmente independente? Parece que não. Já viu um executivo “passar mal” quando a esposa e filhos decidem viajar num fim de semana sem ele, que nunca tem tempo para sair com a família, quando ele não tinha nenhum problema de saúde antes da decisão da viagem? Ele não era externamente um executivo independente, agressivo, pró-ativo na empresa? Como é que passa mal quando a esposa diz que viajará sozinha com os filhos?
Uma mulher casada dependente emocionalmente e até economicamente do marido, quando este a abandona, ou morre, ou trai, ela sofre, mas pode ir sobrevivendo e tentando reagir na vida, e pode conseguir cuidar de si como nunca antes. Era fraca e agora ficou forte para enfrentar a vida.
Todos temos um lado forte e um lado fraco em nosso ser. Isto é verdade do ponto de vista emocional e espiritual. Neste sentido somos parecidos. Todos temos anjos e demônios influenciando nossa vida. Você, portanto, não é melhor e nem pior que outra pessoa de forma absoluta. Pode ser melhor numa área e pior em outra. Mas se você nega sua fraqueza, o tombo poderá ser feio ali na frente. E quando aceitamos nossa fraqueza, paradoxalmente podemos ficar mais fortes. Está se tornando forte quem está aprendendo cada vez melhor a lidar corretamente com suas fraquezas e mantem-se humilde com seu lado forte. Fora isto, ou é dependência de quem não quer amadurecer ou arrogância de quem nega suas fraquezas, sendo pessoas que ainda não aceitaram o fato de que nenhum ser humano pode ser tudo para nós. Falta desidealizar e assumir sua angústia pessoal.
Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
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