Nandinho

sábado, 04 de abril de 2015

Nandinho é como eu chamava o Geraldo Namen, para papos estranhos que ninguém entendia, nem nós. Era no Escondidinho, quando a tarde caía. Ele dava início. 

— Gio, o gol do Larry no domingo...

— O comandante foi o Bin.

— Para, para! Cante aí o Antonico.

— "Oh! Antonico, eu vou te pedir um favor que só depende da sua boa vontade…” — e eu ia até o final…

— Diga aí os melhores goleiros de Friburgo.

E eu na lata: 

— Borracha, Cabrita, Gildo…

— Para, para… Leva aí uma do Mário Reis.

E eu sem titubear:

— "Ora vejam só a mulher que eu arranjei. Ela me faz carinho até demais, chorando ela me pede: ‘Meu benzinho, deixa a malandragem se és capaz!’”

— Para, para… Sabe que o Jael vai para o Fluminense?

E eu mais uma vez: 

— Ele fica lá um ano, depois volta, porque…

— Para, para… Leva outra do Mário Reis.

— Pronto, segura lá: "Você partiu, saudade me deixou, eu chorei, nosso amor foi uma chama que o sopro do passado desfez…

— Para, para! O Binha botou o golinha na lateral.

Eu argumento:

— Mas ele cai pela ponta e aí…

— Para, para, leva uma que eu não sei.

E eu firme:

— "Será feliz quem nessa vida tão ruim, encontrar uma amizade e conservá-la até o fim. Porque no mundo em que vivemos hoje em dia…”

— Para, para… O Leoni vai estrear domingo.

E eu em cima do lance:

— Eu vi o treino.

— O cara é um becão, mas…

— Para, para, tá faltando o Noel nesta roda.

— Vamos lá: "Quem nasce lá na Vila sem sequer vacila ao abraçar o samba e…”

— Para, o restaurante vai fechar. Amanhã, quando a tarde estiver caindo, eu tô chegando.

— Mas quando é que eu vou poder falar?

— Hora nenhuma. É que você cantando é melhor que falando — e saía com seu passo jingado em direção ao armazém, me deixando falando sozinho. Agora, Flávia, coloque no telefone a música: "Amigo é pra gente guardar, do lado esquerdo do peito!”

Um vento forte lustrou a foto perto do telefone. Nandinho, Tatá, Aucar, Coelhinho, Laercio, Gilberto e Jorginho. Vou mandar ampliar e colorir, é a maneira que tenho de conversar com o Nandinho, se é que ele vai me deixar falar.

TAGS:
Jorginho Abicalil

Jorginho Abicalil

Recado de Jorginho Abicalil

Como era Friburgo antigamente? O que o tempo fez mudar? O que não mudou em nada? Essas e outras questões são abordadas, aos fins de semana, na coluna “Recado de Jorginho Abicalil”, onde o cronista relata a Nova Friburgo de outros carnavais.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.