Jânio

sábado, 18 de outubro de 2014

Uma grande campanha publicitária foi deflagrada para eleger o homem da vassoura. Primeiramente em "teaser”, despertava a curiosidade do povo com a frase "Ele vem aí”. No "teaser”publicitário,  um primeiro estímulo de comunicacão é dado sem ainda revelar o nome do produto. Em seguida, com uma marchinha simples que mais parecia ciranda cirandinha, a campanha revelou "Jânio vem aí”. E rolava pelo Brasil inteiro: "varre varre vassourinha, varre a bandalheira, que o povo já tá cansado de sofrer desta maneira”. O homem da vassoura fazia os seus discursos empunhando uma vassoura, símbolo de sua campanha. As rádios de todo Brasil executavam a marchinha que virou sucesso na boca do povo. Miguel Gustavo, o rei do jingle, criou uma pérola para o vice Jango Goulart e os cantores mais populares da época gravaram o samba. 

Jorge Veiga: "Na hora de votar, o meu povo vai votar, é Jango é Jango, é o Jango Goulart, e vamos jangar”. Pronto, criou o verbo em cima do nome e foi um "chicletão”, jargão popular para designar o que cai na boca do povo. 

Emilinha: "Na hora de votar, dona de casa vai votar, é Jango é Jango, é o Jango Goulart, e vamos jangar”. 

Quando veio a Friburgo subi morros, ruas e vielas tocando a "varre-varre” e anunciando o comício em frente da matriz. Ficou lotado e cadê o homem? Corri no Avenida Hotel, pedi licença aos assessores, fui ao quarto e lá me deparei com um homem sentado em sua cama e no chão muitas garrafas de cerveja. Testemunhei in loco o que corria pelo Brasil: o homem era chegado no álcool. Não me contive: "Perdão, presidente, o povo tá gritando ‘tá na hora, tá na hora’...” "Diga-lhe que em cinco minutos lá estarei”, respondeu. Aí aconteceu o máximo. Com sua verve histriônica a todo vapor, gesticulava, dava pausas para os aplausos, era um show teatral que nunca ninguém viu. Foi eleito, proibiu os biquinis, as brigas de galo e condecorou Che Guevara com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul. O Brasil estava atônito. Pediu demissão ou pediram por ele, e foi pra São Paulo esperando voltar nos braços do povo, o que não aconteceu. Ficou no ostracismo e mais tarde elegeu-se prefeito de São Paulo. Sua gestão foi pífia, já não era o homem da vassoura e dos grandes palanques. Foi o maior blefe eleitoral que já aconteceu na história das eleições. Se não tivesse "renunciado”, certamente faria seu sucessor e voltaria para outro mandato. Jamais vi um discurso de quase uma hora, sem titubear, sem perder a sequência do que dizer, com substantivos, adjetivos e verbos cada qual no seu tempo e no lugar. O homem era um verdadeiro showman. "Varre varre vassourinha, varre a bandalheira...” e foi varrido ou varreu-se. Ficou esquecido na memória das eleições. Quem viu, viu, quem não viu, jamais verá.

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Jorginho Abicalil

Jorginho Abicalil

Recado de Jorginho Abicalil

Como era Friburgo antigamente? O que o tempo fez mudar? O que não mudou em nada? Essas e outras questões são abordadas, aos fins de semana, na coluna “Recado de Jorginho Abicalil”, onde o cronista relata a Nova Friburgo de outros carnavais.

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