Sem nome

sábado, 12 de setembro de 2015

Esqueci meu nome
num dos versos
que te escrevi.

Deixei-o
como quem deixa
um feixe
de cabelo
ou uma folha
de outono
entre as páginas 
de um livro:
como recordação.

Esqueci-me
para que 
tu te recordes
de mim.

Ainda que te lembres
apenas quando tiveres
o livro em tuas mãos,
sei que meu nome
cairá
das páginas
e pousará
na memória.

Eu, no entanto,
ficarei sem passado
e talvez tentarei
escrever-te mais versos,
tentando encontrar
o nome que perdi.

Eu vejo meu nome:
um desenho abstrato
nas paredes
(vidro)
do papel 
– mas tudo o que leio
é o teu nome.

Não sei se sussurrado,
se cantado
ou mesmo berrado,
o nome traria meu passado
e calaria o presente.

Este presente,
este instante,me devora
berrando palavras
que tento, 
em vão,
agarrar:
elas pulam 
como peixes
fugidios.

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Me chame
Que já não me lembro
Me chame
Que já esqueci
Me chame
Que já perdi todas as forças
Me chame
Que sem a tua boca
Me pronunciando
Não sei o que sou,
Nem o que deveria ser.
Me chame
Pra perto
Me chame:
Deserto.

Grande deserto,
em tuas dunas
o vento sopra
meu nome
que ecoa,
agora,
neste poema.

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Sem a tua voz
que chama,
o meu nome 
não é mais
que um nome:
substantivo
concreto
derivado
do nada.
Origem:
devastada.

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