Colunas
Sem nome
Esqueci meu nome
num dos versos
que te escrevi.
Deixei-o
como quem deixa
um feixe
de cabelo
ou uma folha
de outono
entre as páginas
de um livro:
como recordação.
Esqueci-me
para que
tu te recordes
de mim.
Ainda que te lembres
apenas quando tiveres
o livro em tuas mãos,
sei que meu nome
cairá
das páginas
e pousará
na memória.
Eu, no entanto,
ficarei sem passado
e talvez tentarei
escrever-te mais versos,
tentando encontrar
o nome que perdi.
Eu vejo meu nome:
um desenho abstrato
nas paredes
(vidro)
do papel
– mas tudo o que leio
é o teu nome.
Não sei se sussurrado,
se cantado
ou mesmo berrado,
o nome traria meu passado
e calaria o presente.
Este presente,
este instante,me devora
berrando palavras
que tento,
em vão,
agarrar:
elas pulam
como peixes
fugidios.
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Me chame
Que já não me lembro
Me chame
Que já esqueci
Me chame
Que já perdi todas as forças
Me chame
Que sem a tua boca
Me pronunciando
Não sei o que sou,
Nem o que deveria ser.
Me chame
Pra perto
Me chame:
Deserto.
Grande deserto,
em tuas dunas
o vento sopra
meu nome
que ecoa,
agora,
neste poema.
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Sem a tua voz
que chama,
o meu nome
não é mais
que um nome:
substantivo
concreto
derivado
do nada.
Origem:
devastada.
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