Cara a tapa

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Como escrever para um jornal? Como, sendo escritora, ter dificuldade em escrever para um jornal? Não é qualquer jornal. Também não sou escritora renomada. A Voz da Serra é o jornal que eu lia quando comecei a ter gosto pela leitura, quando morei aqui em Friburgo, lá pelos meus 10 anos de idade. Agora volto à cidade e tenho a oportunidade de escrever para o jornal da minha infância, fundado pelo meu bisavô. Muita responsabilidade. 

Muitas vezes leio outros escritores e penso o que faria diferente, o que faria melhor. É fácil apontar os erros alheios, muito confortável permanecer na hipótese. Difícil mesmo é colocar a cara a tapa. É isso o que estou fazendo agora.

Não sei bem os rumos que essa coluna irá tomar, terei de descobrir no cotidiano do ofício. Pretendo escrever sobre literatura, indicar livros, escrever poemas. Mas me pego pensando que relevância tem uma coluna sobre poesia. E aí vou mais longe: que relevância tem a própria poesia hoje?

Não tenho a resposta para essa pergunta. Sei apenas que depois de ler Fernando Pessoa nunca mais fui a mesma, nunca mais vi o mundo com os mesmos olhos. Alguns escritores transformam nossas vidas irremediavelmente. É preciso entender que poesia não é sobre o que o poeta sente, mas sobre o que o leitor sente. O que eu sinto ao escrever um poema, o que me leva a escrever, não importa. Só o que importa é o que o outro sentirá ao ler o meu poema. 

Espero que, com esse espaço privilegiado que me foi oferecido, meus versos possam tocar alguém, transformar alguma coisa dentro desse alguém. Ofereço, como agradecimento, a minha cara a tapa, alguma poesia, o coração vivo estendido a vocês.

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