Um caminhão de oportunidades

domingo, 09 de agosto de 2015

Amigos, antes de entrar no jornalismo fui, por dois anos, operador comercial em uma grande loja de varejo instalada em Nova Friburgo. De forma objetiva, operador comercial arruma as prateleiras, atende no caixa, faz a troca de mercadorias e... descarrega caminhão. Pois é. Duas vezes por semana, pela manhã, éramos convocados a receber as mercadorias que vinham da Região Metropolitana e fariam a reposição daquilo que era vendido diariamente. Geralmente, toda a carga vinha nos roltainers (aqueles equipamentos com rodas por meio dos quais é possível conduzir muito peso, sabem?). No entanto, volta e meia éramos premiados com uma nota fiscal indicando que toda a carga estava sem os roltainers — a granel, como chamávamos. Era uma correria tremenda, pois tínhamos horário para terminar a descarga e precisávamos continuar com a operação na loja.

Assistindo à derrota do Flamengo para a Ponte Preta, neste domingo, me lembrei da minha época na loja, e encontrei três aspectos que eram semelhantes ao comportamento do operador comercial.

A responsabilidade: todo profissional tem os seus compromissos e precisa saber desempenhar bem o seu papel. Desde o gerente até o recém-contratado. No futebol também é assim. O treinador tem que saber o que faz na mesma medida que os comandados precisam render. E como uma engrenagem. E no jogo deste domingo, parece que os jogadores do Mengão se deparavam com um caminhão com quatro mil volumes a granel para descarregar cada vez que surgia uma oportunidade de gol. O peso de apagar o frustrante empate contra o Santos, em casa, na última rodada, era o mesmo de puxar um roltainer cheio daquelas caixas com faqueiros, caixas de bombom ou algo tão pesado como. E se tem alguém que não rende na loja, o gerente precisa agir, mas o chefão Rubro Negro agiu mal neste domingo já no intervalo, tirando a figura criativa do Flamengo — Alan Patrick — para colocar o Luiz Antônio, que flutua em campo, sem posição determinada e que pouco rendeu. Daí, o time desandou, e a segunda mexida conseguiu ser pior que a primeira, após o gol da Macaca, com a entrada de Gabriel no lugar do Márcio Araújo. Fico imaginando como seria o professor do Mengão sendo responsável por uma entrevista de emprego...

A ansiedade: um bom profissional precisa olhar pra frente, aproveitar as oportunidades. No caso do Flamengo, o jogo contra a Ponte e  o bom aproveitamento fora de casa poderiam apagar a decepção com o último resultado no Maraca. Mas a ansiedade atrapalhou o time. Lá na loja, a gente tinha que descarregar o caminhão até as onze da manhã, limite permitido para o processo de carga e descarga nas ruas do centro da cidade. A gente ficava muito ansioso para terminar antes do estouro do horário, até para não atrapalhar a rotina do motorista da transportadora, que queria voltar pra casa o mais cedo possível. Caso contrário, precisaria esperar até as oito da noite para terminar a remoção do conteúdo do caminhão. No futebol, a ansiedade é cruel, faz os jogadores tomarem decisões erradas, como o próprio Luiz Antônio quase no fim da partida, quando tentou Emerson Sheik pela direita tendo Guerrero livre como opção na esquerda. Treinador também erra. Ao sofrer o gol, Cristóvão olhou para o banco e chamou Gabriel para tentar reverter logo o resultado. Tá certo, como as peças mais contundentes no banco eram Gabriel e Douglas Baggio, é natural pensar desta forma. Mas aí que vem o erro! Quem ia municiar o setor ofensivo se o articulador do time já saíra no intervalo? Melhor nunca vai ser, mas o Almir teria sido uma substituição mais efetiva para mudar o panorama do jogo.

A fragilidade: nos meus tempos de operador comercial, a gente tinha que lidar com muitos itens frágeis, como copos de vidro, eletrodomésticos, eletroeletrônicos, equipamentos de informática... Nada daquilo poderia quebrar nesse processo de carga e descarga. Tudo tem que ser feito com muita calma. No Mengão, na lateral esquerda e no ataque temos dois grandes exemplos. Já ouço comentários de que Jorge merece Seleção, que o menino fará história com a camisa Rubro Negra... Calma, gente. Calma! Nos últimos anos muitas promessas foram queimadas tamanha a expectativa criada pelo torcedor. Cito Adryan, Thomas, Rafinha e muitos outros. Nesse sentido, parabenizo o Cristóvão, que não colocou Douglas Baggio no time, mesmo com a derrota. Essas apostas precisam ser trabalhadas, lapidadas. Precisam de uma condução boa, para que nada “se quebre” pelo caminho.

O caminhão de gols que o Flamengo perdeu acabou sendo cruel com o torcedor. Duas bolas na trave, defesas em cima da linha, curvas que desviaram a bola do curso do gol. Tudo isso é experiência que será discutida e aprimorada nos próximos dias pelo elenco do Mais Querido. Experiência que me foi muito útil no meu tempo de operador comercial. Sempre há um outro dia, com novas oportunidades. Como a oportunidade do jornalismo apareceu para mim, o Mengão tem uma nova chance na quarta-feira, contra o Atlético Paranaense, de mudar o caminho no Brasileirão. A torcida espera um resultado positivo.

Semana que vem a gente volta, galera!

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