40 minutos antes do nada

domingo, 20 de março de 2016

"O Fla-Flu surgiu quarenta minutos antes do nada." A frase, imortalizada por Nelson Rodrigues, serve como um sustentáculo para ilustrar a importância desse clássico, o mais charmoso do país, sem dúvidas. Só que, neste domingo, o jogão ficou apenas no chavão, o charme ficou apenas na história e o glamour esteve presente apenas nas arquibancadas. E mais NADA! Pois é, diferente do jogo, em que faltaram gols, sobram adjetivos para qualificá-lo. O zero a zero foi decepcionante, frustrante, sonolento... Foi, verdadeiramente, um nada!

Aí eu me coloco numa linha imaginária do tempo deste domingo... Quarenta minutos antes do nada, o torcedor paulista chegava ao Pacaembu, certo de que veria uma grande partida, com gols, jogadas criativas, emoção... Nesses quarenta minutos, o calor do meio da tarde se confundia com as altas temperaturas de um dos clássicos mais importantes que se possa presenciar. Meia hora mais dez minutos de espera, euforia e expectativa.

Quarenta minutos antes do nada, emissoras de TV e Rádio, portais de internet e redes sociais ferviam, informando e repercutindo as escalações das equipes. O Flamengo repetira uma escalação depois de não sei quantos jogos. Analistas táticos observavam como o Mais Querido deveria jogar e davam suas opiniões sobre a formação escolhida por Muricy.

Ah, o Muricy! Quarenta minutos antes do nada ele devia estar trocando aquela última ideia com seus comandados. São coisas que a gente jamais saberá, mas a fertilidade que a imaginação nos proporciona permite supor que o técnico Rubro-Negro pediu para que Sheik fosse menos fominha, que Cirino entrasse ligado no jogo, que contava com Alan Patrick para mudar o jogo se precisasse... E esses pedidos, foram atendidos?

E o jogo começou. Passaram-se 10, 20, 30, 40, 60, 90 minutos, e NADA! A poesia ficou apenas no legado de Nelson Rodrigues.

Particularmente, acho o 0 x 0 o resultado mais insosso que se possa existir em uma partida de futebol. Se não garantir uma classificação em jogos de ida e volta, por exemplo, é um daqueles que dá a sensação de derrota para os dois lados. Depois de 74 anos, o torcedor de São Paulo pôde assistir a um Fla-Flu. E, assim como nossos antepassados, foram testemunhas de uma nova igualdade no placar.

E eu, uns 40 minutos depois do nada, escrevo essa coluna certo de que, em uma próxima oportunidade, vou poder escrever sobre uma Fla-Flu, pelo menos, próximo daqueles que acompanhamos no Estadual de 2004, por exemplo. 

Semana que vem a gente volta!

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