Simplicidade

sexta-feira, 26 de julho de 2019

Simplicidade hoje em dia é ostentação. Ausência de complicação. Desnecessidade de dificultar as coisas. Capacidade em atribuir valor àquilo que muitas vezes não tem preço. Apreciar um pôr do sol, por exemplo. Respirar o ar puro do campo. Conversar com pessoas que têm estórias para contar. Contemplar uma árvore, comer um bom arroz com feijão, receber um abraço de uma pessoa querida, desinteressada, que só deseja a partilha do afeto, fazer uma caminhada, dormir em paz, com a consciência tranquila e deleitar o bom sono dos justos.

Viver de forma simples é absolutamente compatível com uma vida próspera e bem sucedida. É a minha opinião. Aliás, há quem só se sinta no ápice de suas conquistas quando encontra tempo em suas agendas para se aproximar do que há de mais simples e sofisticado que pode haver: a natureza. Natureza das coisas e natureza das pessoas. Essência dos seres.

Talvez estejamos complicando demais. A realidade já anda difícil por si só. Por mais que busquemos a paz interior e um estilo de vida compatível com as mais valiosas virtudes, somos partes de um todo que está desintegrado, problemático, adoentado. Não há como negar. Somos linhas que compõem esse emaranhado complexo, razão pela qual a busca pelo eixo da simplicidade nos reconecta de alguma maneira com aquilo que traz a verdadeira felicidade.

Muitos confundem uma vida simples com uma vida desprovida de condições básicas de existência, o que não é uma verdade absoluta. E é justamente esse ponto que me encanta. Batalhar, crescer, viver em harmonia com o ambiente, prosperar honestamente e ainda assim não precisar complicar tudo para sentir o preenchimento de coisas que não são úteis, não são necessárias, não trazem conforto e nem felicidade. E ainda assim sentir extrema felicidade em poder acompanhar um caminho de formigas no chão. Em ter tempo para preparar bolinhos de chuva no entardecer. Em ouvir cigarras cantando. Em ler um livro.

Sinto um imenso prazer quando troco sorriso sincero com alguém, quando percebo que as pessoas com quem interajo saem melhores do ambiente quando nos encontramos. Maior satisfação sinto ainda quando é a minha tristeza que se esvai pela presença do outro. Mas nada supera a alegria de ver quem amamos sorrindo de verdade. Quando eu observo de verdade, no meu ciclo de convívio, percebo nitidamente que os momentos mais felizes são puramente simples, que as pessoas que ostentam um sorriso real no rosto têm uma maneira de encarar a vida de forma descomplicada. Normalmente, gente que dá valor à essência da vida. Acho deveras maravilhoso.

Definitivamente, para mim, com tantos excessos, materialismo e egoísmo, viver de forma genuinamente simples é um baita luxo.

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Paula Farsoun

Com a palavra...

Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

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