Colunas
Respira
Vontade de sumir. Às vezes ela vem. Ter coragem de adentrar por uma floresta, inspirar o ar puro da mata verde. Sem ruído. Sem humanos por perto. O cenário pode ser outro. Uma praia deserta. Uma cabana no meio do nada. O topo de uma montanha. Uma caverna inexplorada. O importante é que seja só. Ah! Se fosse verossímil e possível um súbito sumiço, em segurança, para um lugar paradisíaco, até a retomada de um equilíbrio e a despedida dessa vontade. São necessários, muitas vezes, esses tempos de hiatos. Apenas a natureza. A própria respiração como único som. Ninguém para pedir, irritar, cobrar. Sem interação. Nenhuma conta a pagar. Nenhum problema a resolver. Sem gente chata. Sem atribuições.
Há quem diga que é nessa hora, quando o súbito da ira toma o âmago da dinâmica corpórea, que devemos nos lembrar de ... respirar. Respira. Conta até três. Até dez. Até mil, se precisar. Quando o estresse é tal que praticamente nos imobiliza ou o oposto, quando nos coloca em posição de confronto, ataque, combate, é hora de respirar de verdade. A respiração consciente tem um poder que nem todos conhecem. Muitas vezes nos salva de decisões precipitadas, atos impensados e palavras proferidas dignas de nos causar arrependimento em fração de segundos.
Não tem jeito. Todo mundo vive seu momento de querer jogar a toalha, perder a paciência, sufocar de vontade de gritar. O ápice desse sentimento pode se expressar de diversas formas. O que fazer nessa hora?
Uma criança de uns 7 anos de idade teve um ataque de fúria. Foi hoje, um cenário paradisíaco, um convite ao lazer, na piscina do hotel, brincando de “marco polo” (não sei ao certo escrever o nome da brincadeira). Umas 12 crianças. Aquela algazarra dentro da piscina. Uma sistemática euforia que poderia extasiar os pais pela alegria dos filhos e espantar todos os demais convidados dessa tarde de lazer. Os gritos estridentes típicos da idade. Um pequeno grupo dos amigos resolveu sair da piscina e pular na modalidade “bomba” para despistar o amiguinho que estava com o “pique” ( quem lembra da infância, deve recordar do prazer implícito naquele pulo caprichado feito bomba na piscina, levantando aquela onda de água direcionada aos adultos que resilientes, ficam próximos às bordas). Um gritava “marco” e os outros tantos, propositalmente de forma não sincronizada gritavam “polo”. Durante minutos. Eis que a situação foi ficando deveras estressante para aquela criança. O guarda vidas clamando por cuidado para as crianças que saiam correndo irresponsavelmente pelas bordas molhadas da piscina fazia coro com as advertências de algum pai ou mãe.
O teste de paciência era tamanho que foi ficando insuportável. Eis que o menino que estava com o “marco”, não aguentou. Teve seu ataque de fúria. A mãe chamou de pirraça. A avó advertiu: “- esse menino está muito birrento.” A brincadeira parou. As demais crianças, atônitas, se agruparam e se afastaram. A criança se acalmou, foi para a área externa da piscina, sentou e apoiou o queixo sobre as pernas dobradas e envoltas pelos seus braços magros. Ali ficou. Absorta. Os mais atentos podiam ouvir seu choro silencioso. Talvez se pudéssemos adentrar em seu interior, decifrá-lo e rotulá-lo de forma melindrosa, creio que ele viveu seu momento “vontade de sumir”. Sem ilusões, isso vai acontecer até o fim. Tomara que, adulto, ele desenvolva sua capacidade de, nessa hora, parar e respirar. Conscientemente.
Paula Farsoun
Com a palavra...
Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.
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