Colo de aluno

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Professores, no fundo, se entendem entre eles. Entre nós! Há um elo invisível que transcende o título e de alguma forma tem o poder de unir e promover a compreensão. Até os olhos tomados pelas olheiras do cansaço encontram ressonância nos olhos dos outros. Não tem jeito, a gente se identifica. Docentes por amor carregam para além dos olhos fundos de quem dorme menos e foca muito no outro, corações generosos capazes de neles carregarem o mundo. Seus mundos. Seus universos de alunos aonde invariavelmente habitam seus esforços, anseios, dores e amores.

A docência só existe porque alunos existem, de modo que não seria exagero afirmar que o corpo discente é a razão de existir do corpo docente.  Eu mesma não suporia ter coração tão grande até que pude amar ao mesmo tempo dezenas de alunos. Com eles, polimos nosso olhar para o outro, o mais profundo significado de empatia, treinamos nossa percepção sobre a vida, superamos nossos limites físicos, emocionais e até mesmo intelectuais, pois, não nos permitimos parar de estudar.

A experiência de convívio em sala de aula me ensinou o significado da palavra vocação. Alunos são testes de todas as ordens. Juntas. Paciência. Resiliência. Autocontrole. Superação. Justiça. São as molas mestras de nossas estruturas, desde as vocais às psicossociais. Mas são, sobretudo, provas de amor. Não há satisfação maior que desempenhar o ofício escolhido com amor, como professor.

Há ainda faceta incrível da missão professora que de tão sublime merece o destaque desta coluna. Além de toda reciprocidade de todos os dias, podemos experienciar os colos que os professores recebem nos seus dias difíceis, quando a superação, por maior que seja não é capaz de suplantar questões de difíceis soluções. Colos dos alunos. Que chegam por meio de olhares, gestos, sorrisos, palavras que acalentam o coração e acarinham a alma. Vêm até nós por meio da compreensão de que nosso melhor naquele dia foi limitado ao que conseguimos fazer com ética e profissionalismo diante das adversidades enfrentadas para além das paredes das salas de aula. Chegam acompanhadas da nítida noção de que somos verdadeiramente um time, que precisa continuar unido, prezando pelo mútuo apoio, e que raramente todos estarão nas mais perfeitas condições ao mesmo tempo.  Por vezes, será o técnico quem precisará se retrair ainda mais na lateral do campo para se recuperar de suas demandas pessoais. Nessas horas, lembramo-nos de que somos apenas humanos tentando apoiar outros humanos a construírem suas pontes de conhecimento e, sobretudo, de humanidade. Sei que não somos todos. Mas, ainda restam muitos de nós. Que sejamos o bastante para ampliarmos a percepção de que só o amor constrói.

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Paula Farsoun

Com a palavra...

Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

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