Colunas
Um Natal pra você
Da janela, posso ver mil luzes que iluminam esta noite. Do vidro transparente posso ver também muitas árvores com quilos de enfeites coloridos. Vejo presentes em sacolas, percebo fantasias nos olhos das pessoas. Mas nada disso me chama mais a atenção do que o céu: estrelas, estrelas cadentes, a lua, planetas distantes... Mas não é exatamente nada disso que se destaca, ainda que as estrelas reluzam, mesmo que as estrelas cadentes façam crianças sonhar que é o trenó do Papai Noel, ainda que a lua converse com os casais, mesmo que os planetas distantes pareçam mais próximos em noites assim.
De longe, sem binóculo ou luneta, vejo distante daqui, mas bem próximo de mim, um anjo. Um anjo sem asas, mas que é exatamente como imagino que seja um anjo. Luminoso, feliz, presente.
Ele diz que neste natal e nos próximos natais não estará sentado à mesa, mas que está ali no quadrado daquela janela e que se lhe for permitido, adentra a janela e se instala também no coração daqueles que estão abertos para os milagres...
Ele é como o vento que você não vê, mas sente e ouve. Ele é como o sonho que você acredita ser real enquanto sonha e que sabe que apesar de não ser matéria tem o dom de realizar. Ele toca sem precisar acariciar sua alma. Ele muda seu jeito de agir e ser sem estipular regras.
Milagres existem, eu sei. Há uma porção deles em todos os lugares. Se o natal faz com que fiquemos mais atentos, observa e verá. Se o natal nos faz melhores, por que não manter permanente esse sentimento.
Força e fé são companheiras. É avassaladora a ausência. Devastadora é a necessidade que não é contemplada. Mas se é forte e tem fé, vê o anjo pela janela e presencia o milagre que extirpa desejos vãos. Deixa o anjo entrar, pede para que ele fique além do natal, mas não seja egoísta ao ponto de querer aprisioná-lo. Outros também precisam dele. Ele também tem outros a ajudar. Multiplique-o pelo exemplo.
O mundo pode ser redondo como uma bola que enfeita a árvore, mas não é oco, tampouco leve. Ninguém disse que o mundo não pesa nas costas de quem se responsabiliza por ele, mas há que se dizer que esse mundo redondo é repleto de magia, tem em si sonhos e ações que o levam por sua fascinante viagem pelo tempo. É um equívoco não querer participar da história do mundo, é um erro não compartilhar-se.
Neste natal, o anjo me diz que assim como qualquer outro natal, muitas mesas estarão com assentos vagos, amigos secretos estarão menos completos, mas que nem por isso não se deve celebrar o nascimento do amor e o surgimento da esperança. O amor e a esperança prevalecem à saudade que existe e que deve ser vivenciada com dignidade. A dignidade de quem viveu lindos momentos e teve a glória de conviver com pessoas que jamais serão esquecidas, mas que pedem lá de cima que prossigamos a colaborar com a jornada do planeta. O natal traz à tona saudades que, aquietadas em outros dias - gritam. Deixa gritar! Deixa escapar, mas entende que o amor e a esperança ainda vivem. O amor e a esperança merecem ser celebrados, comemorados, marcados no calendário. Mas se pode, por que não levá-lo para outros dias, para todos os outros dias do calendário. Se você não pode levar o natal, então leve o anjo consigo. O tal anjo sem asas, mas que decerto é exatamente como você imagina que seja um anjo.
Wanderson Nogueira
Observatório
Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.
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