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Swian - 20 de setembro 2011
Não sei se conseguirei chegar até o final deste texto, tampouco se conseguirei colocar as palavras no lugar que gostaria. Palavras. Tudo o que tenho são as palavras. Queria ter outro tipo de poder. Mas se o que tenho são as palavras é delas que me servirei para dizer que tive o privilégio de conhecer, de divulgar, de ver a paixão e a determinação contagiantes de Swian Zanoni. Acima de tudo tive o privilégio de poder chamá-lo de amigo! O mundo esportivo, o esporte brasileiro perde um talento; eu perco um amigo! O mundo perde um grande ser humano.
Swian era realmente um cara especial. É o tipo de profissional que você via e dizia com toda a segurança: ele nasceu para fazer isso! Swian nasceu para ser piloto, piloto de motocross.
Incentivado por seu pai Pedro (o que lhe dizer, Pedro?), desde muito cedo Swian já pilotava. Quem olha a primeira imagem gravada dele, pequenininho, com seis aninhos, em cima da moto, não tem qualquer dúvida: este será piloto! Mas Swian não foi apenas um piloto! Foi o melhor! Melhor do Brasil, buscando ser o melhor do mundo! Para Swian não bastava ser o melhor de suas cidades, Divino-MG, onde nasceu, e Nova Friburgo, cidade que escolheu e o escolheu. (Vocês não sabem como é difícil terminar este texto).
Para Swian não bastava ser o melhor de Minas ou do Rio de Janeiro. Swian se cobrava muito. Swian se dedicava como poucos! Um campeão não nasce só por sorte ou acaso. Um campeão se forma com alma, trabalho e coração. Swian tinha tudo isso! Por isso, não foi à toa que em tão pouco tempo ele se tornou o melhor do Brasil e recolocou o Brasil no Mundial. Lembro do entusiasmo dele quando representou o Brasil na Copa das Nações na Europa. Lembro das idas e vindas com a sua equipe, os receios, a falta de certezas. A vida de um piloto profissional é cheia delas. Você não sabe se terá o contrato renovado, você não sabe se será o primeiro piloto, você não sabe nada, além de seu próprio talento, muitas situações não dependem de você! Tem as contusões, tem os perigos... Mas é difícil não ser conquistado por Swian!
Conheci Swian através do Cabritinha, um entusiasta, um batalhador pelo motocrosss. Cabritinha levou Swian ao meu programa de TV, apresentando-o como um grande potencial, uma promessa já consolidada. Aquela foi apenas a primeira de muitas entrevistas. Passei a ser fã de Swian e passei a acompanhar e divulgar a carreira dele na TV, na rádio, no jornal! Queria poder ter feito mais, porque Swian merecia muito mais! Por que ele era um grande talento? Também! Mas porque Swian tinha humildade, simplicidade, paixão. Nunca desmerecia ninguém! Era parceiro, brother mesmo! Tinha uma grande identificação com a história dele, tinha uma grande admiração por ele! Ironia ou não, o mesmo Cabritinha que me apresentou Swian teve a dura missão de me dizer que perdemos... que perdemos Swian, o nosso Senna das duas rodas... É doído demais perder quem a gente acredita, quem a gente gosta! Ainda não acredito...
Lembro, quando no final do ano passado ele foi chamado para disputar o Mundial pela Honda. Um momento único! Nesses 10 anos que acompanho o esporte de perto, diria que foi uma das notícias que mais gostei de dar, uma das entrevistas que mais gostei de conduzir. O Brasil não colocava um piloto no Mundial há mais de 10 anos. Nova Friburgo jamais sonhou com tal feito! Lembro da entrevista que fiz com na casa dele, onde pude ver várias fotos desde que Swian era bebê, toda linda trajetória de vida dele. Chamei-o de herói, por ter ajudado tanta gente e ter até salvado vidas com sua moto no dia da tragédia. Ele se esquivou do título de herói e com o olhar respondeu que fez apenas o que qualquer um teria feito! Swian era assim!
Lembro da festa de despedida dele numa churrascaria da cidade quando ele deixava o topo da serra para atingir o topo do mundo! Aquela despedida foi também a última vez que estive com ele! Sabia que seria difícil torná-lo a vê-lo, brinquei com ele, “agora é só entrevista de ESPN pra cima” e ele respondeu: “Nada, patrão, no meio do ano tô aí para fazer uma visita, vamos estar juntos!”. Essa visita não aconteceu porque ele teve que passar as férias se recuperando de uma lesão! Brinquei com ele: “Meu irmão, tenho dezenas de programas na TV com você, mas não tenho uma foto com você!”. Tiramos algumas fotos! Pude lhe dar um abraço apertado e dizer orgulhoso que ele merecia todo sucesso porque trabalhou muito por isso e que esse só seria o começo de algo ainda maior! Disse que estaria com ele, na torcida por ele! Depois só trocamos mensagens pela internet. Torci para que ele se recuperasse rápido das lesões sofridas durante o Mundial e como ele sempre dizia com o otimismo que lhe era peculiar “intão, patrão...”.
Então, patrão! O que dizer?
É difícil... Já pensei que o mundo não é justo, que a vida não é justa... me perguntei por que os bons morrem cedo e em meu íntimo não entendo por que tem que ser assim! Tento me confortar com palavras de amigos que me dizem que em vida estive dando força pra ele (nunca parece o suficiente, a gente sempre pode ser mais presente). Tento me confortar com a esperança da vida eterna e de um reencontro em outras esferas. Me apoio na fé, na certeza de que Swian cumpriu com a sua missão por aqui! Fez muita gente feliz, levou alegria a muitas pessoas, provou que era possível alcançar o topo! Deu aula de humildade, mesmo quando poderia se colocar como o maioral! Mostrou a todos que não é preciso viver cem anos para ser importante e marcar o planeta com sua existência. Ele viveu apenas 23 anos... 23 anos e me (nos) ensinou tanto! Ensinou tanto ao mundo com garra e perseverança!
A última mensagem que troquei com Swian foi um convite para que ele estivesse no meu programa de TV da segunda-feira que vem, dia 26 de setembro! Não será possível...
Swian não está mais aqui para dividir conosco suas histórias, sua alegria, sua paixão. Ele se despediu do mundo exatamente onde mais gostava, fazendo o que mais amava. Na pista, em cima de duas rodas...
Ficarão as lembranças. Sua imagem se manterá intacta no meu, em nossos corações! Queria poder me despedir, mas não direi adeus Swian. Faço essa pseudo-homenagem dizendo com todo o coração: obrigado pelo privilégio de ter te conhecido. Dividirei com o Sr. Pedro a certeza do filho inspirador que é! Sua jornada nos inspirou, sua alma nos inspira a lutar pelos nossos sonhos como você sempre lutou!
Desculpem se fiz um texto confuso ou muito pessoal, mas é que não perdi apenas um entrevistado, um piloto ou um ídolo, perdi um grande amigo e um dos melhores exemplos de ser humano que tenho! Swian, queria poder-lhe dizer isso agora! Por hora, guardo cada momento, cada conquista, cada encontro certo de um reencontro... Até lá, sentirei saudade, saudade, meu campeão! Sentiremos saudades, muitas saudades...

Wanderson Nogueira
Observatório
Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.
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