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Sem palavras
As palavras sempre nos faltam nos grandes momentos da vida. As palavras nos faltam, não porque não se possui um bom e vasto repertório, mas porque queremos encaixar tão bem aquilo que sentimos que não conseguimos externar exatamente o que sentimos.
É assim que ficamos ao tentar confortar a dor de quem amamos e damos ombro, peito, mãos e espírito, mas não palavras. Elas ficam presas na garganta ou mais precisamente, as letras ficam espalhadas no coração e não conseguem formar palavras ou quando conseguem formar palavras, as palavras se ordenam de forma confusa que acabam por não formar frases, apenas a intenção verdadeira delas.
Sem palavras. É assim que ficamos quando só precisamos dizer um sim. O tal sim que muda tudo e vira capítulo na sua história. E não adianta ensaiar, porque você sempre acaba surpreendido e o sim sai torto, quando sai. Mas os olhos não mentem, porque a alma treme. E se alma treme é porque aquilo ficará marcado para além da mortalidade que nos espera.
Se a dor é difícil de descrever, só sabe exatamente o que é quem a sente. A felicidade também é difícil de ser descrita. Você explode como fogos de artifício de ano novo, você abraça com força os que ama, mas não consegue dizer em palavras o que é esse estado tão momentâneo, mas tão marcante, tão revelador, tão avassalador, tão importante que todo o resto não importa.
Ainda que as palavras faltem, sumam, se ocultem, o silêncio pode dizer tanto quanto a possibilidade irreal de se encaixar perfeitamente aquilo que se quer proferir. Presença, privilégio, vontade de dividir o bom e o ruim que coexistem no tempo e espaço que abençoa cada um e junta alguns para dançar e cantar cada música da festa da vida. Sejam essas músicas tristes ou alegres.
A falta de palavras na verdade quer dizer, entre outras coisas, que se você pular eu pulo, ainda que tema o resultado da decisão. Quer complementar que você volta quando todos já se foram e confirma a certeza quando você realmente volta e voltará sempre que preciso. E que essas promessas não foram desfeitas, como jamais serão corrompidas.
Há coisas que nem as palavras podem quebrar, ainda que a ausência delas possa selar acordos de eternidade, como um olhar, um gesto, um encontro. E o que viaja no espaço, por entre as estrelas, desviando dos buracos negros das galáxias, não são propriamente as palavras, mas o que elas dizem no comprimir e exprimir do coração.
Quero que as palavras me (nos) faltem muitas vezes, pois assim saberei que tive uma jornada intensa, repleta de momentos únicos e emocionantes, provando que minha existência não foi em vão. Quero compartilhar a minha falta de palavras com alguns que se tornam muitos, não pela quantidade, mas pela grandeza que representam. Como aquele instante de poucos segundos que descreve uma vida inteira nessa imensa vida que não se faz pelos anos, mas pelos instantes.
Instantes intensos que me roubam as palavras e como gosto de não tê-las ou vê-las à minha frente, como é bom ser incapaz de agarrá-las e reproduzi-las na falácia... Ainda que se olhar bem nos meus olhos, se puder ouvir meu coração, haverá de lê-las ainda que não consiga reproduzi-las também.
Sem palavras. Como gosto de não ter palavras para descrever o que vejo, o que sinto, o que amo... Desejo a você, portanto, infinidades de falta de palavras!
Wanderson Nogueira
Observatório
Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.
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