Colunas
Risco
Queria não ter te visto. Era risco. No chão. Era giz. Que se apaga. Na primeira imensidão. Não faz risco. É um só risco. No amargo da sofreguidão. Pudera fugir. Quem dera fugir do sopro dessa poeira que se faz giz, letra, palavras, corrosão... Vontade de libertar o grito da goela por não ser um gostar da boca pra fora.
Você mexe comigo. Mas vou dizer que você não me afeta. Você muda meu rumo. Mas vou dizer que você não altera meu humor. O ritmo da canção é lento, mas veloz é o ritmo que imprimo para te entender sem prometer que não vou te querer. Você é pessoa discreta, mas mesmo assim não vou deixar de lado meu exagero. Eu gosto mesmo de você. E ainda que diga que espero, sei que você bagunça tudo. Meus pensamentos, meu coração, meus dias. Juro decisões. Tudo é tão perfeito, só falta sua mão na minha mão, sua liberdade na minha liberdade, sua letra na minha composição.
As linhas de seu rosto cortam as linhas que me conectam à pipa que empino no céu. E venho à terra para te ver. E quero ficar. Ali. Observar e me descuidar de toda a tentação. Rimar palavrões que disfarçam o medo nas mensagens. Correr risco no rabisco que desenho com as mãos quando te aceno. Que vontade de fazer coração. Deliciosa é a sensação de jogar beijo e viajar nesse beijo como se fosse nave que voasse até a sua boca e adentrasse seu peito. Oi. No oi já vem a coragem despertada em ditar com os olhos a promessa de teimosia em ser seu par.
Você pode estar na multidão e ainda assim só querer aquela pessoa. Ela pode achar que você é louco. Que você assusta. E assusto mesmo. Mas você quer aquela pessoa, mesmo com muitas pessoas ali. Bonitas, loiras, morenas. De todos os tipos. Mas ainda sim. Você só pensa nela. O que fazer? Não há o que fazer. Só ela vem à cabeça. Só ela faz presença. Até quando ausente. Principalmente, quando ausente. Saudade, nostalgia de segundos atrás.
Então, você se permite. É quem você quer. Talvez, admita. É quem ama? Não sabe. Para que saber? Eu gosto mesmo é de você. Queria não poder gostar. Mas gosto. Não te levo para casa. Não digo nada. Apenas sou. Insisto. Vou. Saio de mim ou saio para ir até aí? Sem querer ir. Sem ir. Ainda vou adentrar sua porta, sem ter que bater nela. Ou entro pela janela do seu coração pensante e arredio. Frio sem frieza. Seco com umidade. Molhado é o beijo da sua boca. Chove na Lagoa. Aquele "se cuida" foi despedida. Jamais coloquei toda minha felicidade em suas mãos. Não confunda minha disposição com dependência e não faça disso quilos de peso nos seus ombros. Minha alegria preza pela sua. Minhas mãos só querem te levar para passear. Não garanto segurança, mas segurarei as suas mãos todas as vezes que nossos passos tiverem que se equilibrar na fina linha desse risco que nos permite acariciar as estrelas que arranham o céu.
Seja parte, porque não quero partir. Seja a arte inventiva da minha ilustrada imaginação. Que seus traços se despejem na tela da realidade que precisa e pede cores. Suas cores. As mesmas cores das flores do meu drama. É mais um risco. Mais do que o risco que diversifica o querer dessa ilusão em parágrafos que não enfrentam a gramática, mas que tenta de algum modo traduzir a emoção de ter conhecido os riscos que te fazem ser aquela que espero do outro lado da rua, do outro lado da montanha, para além dos desenhos feitos, com tijolo quebrado, dispostos no chão. Acende as luzes desse labirinto. Talvez eu queira ver. Talvez eu apenas não acorde para continuar sonhando.
Wanderson Nogueira
Observatório
Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.
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