Que ano!

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Desde que o homem começou a contar o tempo que é assim. Na lógica do conjunto de dias, semanas e meses, fecha-se um ano. Período que encerra um ciclo para abrir outro. Sem que exista mágica - admitindo atmosfera singular - agradece-se o que passou e renova-se para o que vem.

Por mais que o mistério resida no futuro, compreender o passado também é excitante, afinal, há o ontem sob o seu olhar, sob o olhar do outro e da forma como realmente é. O mais divertido é que essa realidade tem um caminho como qualquer equação matemática. O resultado que supõe um, pode acabar outro.

Assim, muitas das vezes só entendemos porque isso ou aquilo decorreu desta ou daquela maneira após longo período. Não se trata de aceitação fácil ou argumento frágil. O homem se destaca justamente por seu dom questionador. Chegamos até aqui, a essa era de bytes, smarts e planetas com nomes de X milhões graças às perguntas. Trata-se, acima de tudo, que nem tudo está ganho ou perdido. Se é um ano de cada vez, também é dia após dia que se vive.

Colecionamos assim vivências e convivências para constituir mais do que a história de um ano, mas a biografia de nossas vidas. Este ano ou o anterior terão sido melhores ou os próximos serão. Cada ano é um traço na nossa linha do tempo. Cada ano é uma possibilidade que se vê, se abre, se (nos) consome. Como você foi consumido? Como você será consumido. Consuma seus sonhos, aniquile seus medos, se vista de coragem. Seriam estes e sempre serão bons conselhos para todo dia, para o ano...

Que ano! Ao ponto final deste ciclo de 12 meses, ter o direito supremo a evocar às muitas exclamações, interrogações e reticências. O ano que finda se estende ao outro, tanto quanto faz permanecer perguntas reflexivas, provocativas, angustiantes e também instigantes. Para as exclamações sobram todas as expectativas efetivadas, as surpresas agradáveis, a falta de ar que visitou por aquele encontro, descoberta ou a inexplicável sensação de ser feliz!

Se uma vírgula ou outra se apresentaram na esquina, reconheça-as ou corrija-as. Não tropece nelas como tantos escorregam nas crases. São necessárias para o bom ainda que nunca perfeito entendimento. Quem entende sem interpretar-se é um chato. Jogue esse fracasso fora. Jogue-se, mergulhe! O ano que era agora se foi embora. E agora?

Ufa! Como correu sem que quiséssemos que corresse ou como queríamos que corresse para sair logo daquela fase cinzenta que nos escondeu o azul do céu. Bom mesmo foi enxergar, ainda que na imaginação, a aurora boreal. O que levar? O que deixar?

O fascinante inesperado que se espera e quando chega acaba por receber mesmo o título de inesperado. Esperamos tanto a paixão, o amor... Quando nos vem traz sensações que os livros não conseguem descrever. Há que se experimentar por si só, com a exclusividade própria de ser indivíduo, único. Se o amor bateu à sua porta, ou mesmo aquele flerte com a paixão que talvez se qualifique posteriormente como encantamento - agradeça! Isso é um privilégio. São esses sentimentos que nos tornam vivos e fazem à pena valer o ano, a vida.

A saudade também fez ponte? Faz parte. Não construa muros para a saudade. É a prova de que se viveu alguém realmente marcante. Queremos muitas vezes expulsar a saudade, quando expurgá-la significa aniquilar memórias divinas de encontros que nos conduzem e tornam especial essa passagem por esse lugar fascinante que é a vida.

Portanto, nem sempre é preciso definir... Nem toda escolha tem que ser um dilema. Uma árvore solitária na calçada é apenas uma árvore com um canteiro para si só. A multidão é um conjunto imenso de pessoas que se olham, mas que podem sequer conversar. Ser par é essencial. Fazer parte, se juntar é experiência que nem o conjunto de dias que formam um ano pode exemplificar.

Ser um ano! Ser muitos anos! Suspirar e dizer com firmeza de quem cumpriu com seu destino: que ano! Venha novo ano!

É interessante a inspiração que vem da incerteza. É instigante a leveza que vem da beleza de ser o que é e nada mais. Ser puro é tão natural. A ingenuidade protege quem ainda a tem. Toda solução está em um poema. Toda conclusão está na admiração que é prenúncio de uma inovadora paixão. Apaixone-se e de tudo será capaz. Se entregue a contar o tempo só se for para contar histórias depois.

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Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

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