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Procura
Se procurar bem sempre acha algo que lhe falta. Não se trata exatamente daquilo que lhe tornaria mais completo. Talvez seja mais uma suposição de que se tivesse aquele carro, se tivesse aquela roupa, se amasse aquela pessoa ou se por ela fosse escolhido, se tivesse chance de estar naquele palco ou no lugar daquela pessoa, você seria assim...
Ah! Se procurar perceberá que lhe falta algo e que lhe faltam muitas coisas que talvez o façam mais feliz, sem garantir, no entanto, que lhe trarão a felicidade. Não há garantia alguma de nada.
Por isso, parei de procurar o que me falta e passei a valorizar o que tenho! Se procurar bem, você também perceberá que tem muitas coisas das quais pode se orgulhar e que se encaixá-las bem, poderá até ter a tal plenitude que o torna completo.
Estar completo não significa que você tem tudo, conheço pessoas que tem muito, próximo a ter tudo, que não são felizes, aliás, algumas delas são as mais tristes que conheço. É preciso se permitir a felicidade que vem de várias maneiras, em muitas formas e sem grandes embalagens, mas que precisa ser vista.
Há quem não veja, há quem não sinta, há quem não perceba, há muitos que não se permitem ver, sentir ou perceber. Estar completo é também sonhar, vicejar o amanhã, procurar o amor, esperar pelo amor, trabalhar para ter, evoluir para ser. Mesmo que não ajam garantias de amanhã, nem de resultado certeiro, porque a vida não é um cálculo matemático, é preciso crer que o esforço de agora se perpetua na direção do horizonte.
Se procurar bem você se encontra consigo mesmo. Não sei se a verdade de si mesmo é boa ou ruim, se lhe agradará ou lhe perturbará, mas ela precisa ser descoberta, ela pede para ser desvendada. Nada melhor do que ser amigo de si mesmo, de se conhecer, quer se orgulhe ou não do que se é. Para isso é que existe o dom da transformação.
O desejo de se transformar já te transforma por si só. Todos têm o direito à felicidade, todos têm a possibilidade de se transformar, de evoluir. Mas para evoluir é preciso se conhecer. Não, não como um mapa num atlas, porque não somos geografia, mas somos um mundo que forma mundos maiores e esses mundos unidos se esbarram por aí e se confundem e convivem.
A procura é interminável. Há coisas que você não procura, mas que te acham.
Assim, sempre estaremos procurando algo na gente mesmo, nas pessoas que estão ao nosso redor, nas lojas e shoppings, nos filmes e nos personagens, no nosso mundo de céus e infernos particulares, nesses mundos que habitamos e nos deixam habitar.
A partir do momento que a procura cessa, tudo para, paralisa. Porque a falta de ação nos faz perder direções. Não temos para onde ir e nem porque ir, ao ponto que ficar não nos apaixona. A paixão, ainda que tímida, reprimida, desgastada, move tudo. A paixão nos dá medo, receio e esperança. É sempre atitude, nos motiva, cativa e constrói, ainda que para construir, às vezes, é preciso demolir castelos, mansões, casas, casebres e barracos.
É preciso procurar naquilo que temos, tanto quanto como naquilo que não conhecemos. É preciso certo atrevimento, mas também é necessário contentamento. Por isso para procurar é preciso estar atento. Há que se apurar o talento de ver, o desafio de sentir, a responsabilidade de perceber, a obrigação de se conhecer, o direito de se permitir.
Não sei se você será feliz ou triste, se ficará bem ou mal, se terá o que quer ou se o que quer é realmente o que lhe falta. Não sei se admirará o que vê no espelho de seus olhos, mas se ver saberá que pode transformar tudo que está ao seu redor, principalmente você mesmo.
Se procurar a paixão encontra e ao encontrá-la você será movido e correndo, cantando e tropeçando alcançará a arte que faz de todos artistas, na peça que todos têm que esculpir, no quadro que todos têm que pintar a cena que todos têm que interpretar: a vida. E a vida é procura constante dessas difíceis de definir apenas em um ato, um quadrado, uma compra, um personagem, uma tela...
Wanderson Nogueira
Observatório
Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.
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