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Pátria que me pariu
O Brasil é um País extraordinário com um povo igualmente extraordinário. Vivemos, no entanto, um dos momentos mais tristes da nossa história. Não somente pela corrupção endêmica falsamente combatida, mas também pela desconfiança de nossa democracia, pela derrocada de nossa economia, pela suspeita de não sermos de fato independentes, pelo lençol jogado sobre os invisíveis que são combatidos como se merecessem menos, quando deveriam ter tudo.
Alguns defenderão ser o Brasil dono de uma história novata. Mas já ultrapassa 516 anos de descobrimento e quase 200 de independência. Não é, portanto, uma Nação tão antiga, mas também não é mais tão criança assim. Acumulamos experiências como povo e não podemos esquecê-las. A situação está estranha e é preciso, antes de tudo, reconhecer.
O Brasil, de repente, cresceu. Talvez esteja na difícil fase da puberdade em que quer ser adulto logo, mas não abandona as coisas próprias de menino. Rebela-se pela sua natureza, mas acaba por brigar consigo mesmo. No mesmo compasso que percebe seu talento para organizar eventos internacionais, se desencontra ao tratar de suas questões internas. Estamos mais críticos, mas também menos sábios. O Brasil, que é acima de tudo o povo brasileiro, chega ao seu 7 de setembro precisando se encarar no espelho. O que vê? O que finge não ver? O que vê sem de fato existir?
O grande escritor Gilberto Freyre seria muito necessário agora para tentar descrever o momento que vivemos. Talvez não tivesse respostas, muito menos previsões do desfecho, até porque não era um vidente. Mas, certamente, estaria preocupado com a era do ser isso ou aquilo e não poder ser múltiplas coisas. Ser isso e não respeitar o diferente. Evitar o debate por puro comodismo ou porque debater é admitir o que está aos nossos olhos, mas não se vê ou não quer se ver. O desrespeito é o pai do preconceito. O preconceito é irmão do retrocesso. Estaria "Casa Grande & Senzala" se repetindo? Quem sabe se perpetuando? Ou evoluindo? Partindo de partir em partes ou de ir mesmo?
De um lado, temos aqueles que adotam a postura despolitizante. Do outro, os que politizam pelo viés extremista que se confrontam ao ponto de perderem o sentido de serem mais que vermelhos e azuis — brasileiros. A serenidade é essência fundamental na mobilização de afetos. Para onde nossos afetos se diluem?
Tantas perguntas... O Brasil precisa se responder para tentar se entender. Mas a ausência de respostas não pode levar a incompreensão, ainda que a energia gerada pela indignação necessite levar a algum lugar. Um novo lugar, sem despatriar o caminho trilhado.
A Pátria que me pariu é aquela que ainda me leva a acreditar no tal espírito de fraternidade humana acima de todas as outras questões. A Pátria que me pariu admite seus erros, mas age como uma mãe gentil. A Pátria que me pariu consegue expurgar os seus maus filhos, mas ensina através deles que o bem sempre vence o mal, mais cedo ou mais tarde. A Pátria que me pariu constrói pontes para a felicidade, mais do que muros para o futuro.
Sei que no circo que existe, tentam a todo custo vestir, nós o povo, de palhaços. É assim desde o 7 de setembro de 1822. Mas se a independência ainda é algo utópico, que as nossas utopias nos façam crescer como povo em uma Nação.
Wanderson Nogueira
Observatório
Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.
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