Observatório - 31/05/2014

"Uma coisa tão simples quanto o bater das asas de uma borboleta pode causar um tufão do outro lado do mundo.” Se você pudesse voltar no tempo, você voltaria? 

Cada dia é uma viagem no tempo. Passeamos pelas horas enquanto os minutos passam por nós. Na verdade, enquanto a Terra gira, nos são concedidas inesgotáveis possibilidades. Choramos, rimos, vaiamos, aplaudimos, gritamos, silenciamos, corremos, paramos, percebemos, não percebemos... Somos explosão de sentimentos, mesmo quando pecamos pela indiferença.

Cada instante é um privilégio. Ainda que haja a tentação de voltar no tempo, se voltar no tempo fosse possível creio que teríamos medo. Vai que muda tudo. Vai que a gente perde aquela foto, aquele beijo, que fique pequeno por não ter evoluído após aquela dor ou aquela negativa. Se você pudesse voltar no tempo, você voltaria? Correria o risco de perder tudo o que acumulou? Teria mais? Seria menos?

Somos resultado de nossas experiências. Somos a soma de tudo o que vivenciamos e com quem compartilhamos nosso tempo. O não, muitas vezes, ensina mais que o sim; a derrota, mais do que a vitória. Derrotas passadas podem dar grandes vitórias na frente, como vitórias hoje podem anunciar enormes derrotas amanhã. Pode parecer uma forma de aliviar a barra, mas não é! Somos quem somos e nos tornamos quem nos tornamos mais pelo que não foi do que pelo que foi — sendo ambos imprescindíveis.

Viaje no tempo com simplicidade. Deixe a vida acontecer e o tempo nos findar. É preciso admitir sem necessidade de ser corajoso: somos como a gota d’água que evapora no sol do verão. Assim, aproveite a viagem para olhar nos olhos, observar o vento, vislumbrar as paisagens, abraçar com a alma as pessoas. Aconteça com a vida!

Viajar no tempo com eficácia é saber que vai errar e que o erro é garantia de acerto futuro. É saber que, de vez em quando, viver será doído e nem tudo que é planejado dá certo. É, definitivamente, se orgulhar das surpresas mais do que das expectativas atingidas. É ter ciência de que a saudade visita não só uma, nem duas, mas muitas vezes. A saudade é a forma de o tempo dizer que você está viajando por ele e que deve ficar atento, porque o ponto de desembarque não é você quem define, esteja acordado ou dormindo...

Há sonhos por sonhar, alguns por realizar. Os melhores sonhos, no entanto, são aqueles que compartilhamos no cotidiano. É isso que faz brilhar os olhos. Essas sentimentalidades que distribuímos e recebemos no passeio pelos segundos das horas. Em dias comuns. Em festas que são na verdade esbarrões na calçada, nas conversas no trabalho ou nas mesas que sentamos com alguns poucos e bons que nos escolhem e escolhemos para viajar com a gente, ainda que em uma xícara de café ou uma taça de vinho. A cerveja, o suco são apenas alegorias no pretexto de se juntar para ser feliz. 

Ah! Cada dia é uma viagem no tempo. Alguns dias a viagem é melhor... Outros podem ser entediantes, até mesmo angustiantes. Mas a viagem requer que colhamos o sentido daquilo que nos apresenta. No mínimo, precisamos colher o que a viagem nos mostra e tirar disso algo que marque aquele dia, aquela hora. Não há porque desperdiçar nem um dia... Fará falta quando a viagem acabar, ao ponto de querer voltar no tempo, mas voltar não é possível e ainda que fosse, poderia ser perigoso demais...

Por que você voltaria no tempo? Para repetir mais aquele abraço do que aquele beijo que não foi conquistado. Para rever mais aquele rosto do que ter aquela suposição de encontro que não aconteceu. O maior risco que se pode ter em voltar no tempo é perder aquilo que já teve. Afinal, pode não ser tão bom trocar algo que não se teve por aquilo que te guiou, te transformou e tornou você quem você é!

Se você pudesse voltar no tempo, você voltaria para trocar o que teve por coisas novas?