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OBSERVATÓRIO - 28/02/2015
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Hoje é dia de crônica
Tanto quanto
As palavras nem sempre só querem preencher as linhas de um papel em branco. Nem sempre o papel tem o desejo de ser consumido, mas as palavras — estas sim — têm a pretensão de chegar ao seu destinatário. Gostaria que me lesse. Seria bom se não fingisse que não lê. Queria que me ouvisse. Almejaria ter a coragem de dizer que sim! Sim, as últimas crônicas foram para você... As últimas crônicas acabaram sendo frutos seus, por ser a inspiração de toda essa angústia boa de quem se sente sentindo.
Peço que pare de me confundir, tanto quanto imploro para que continue trazendo esse turbilhão de confusões que me faz a cabeça girar e o coração pulsar mais alto e mais forte. Diz que a sombra só existe onde tem luz. Eu adoro concordar com você, porque seu dizer cirúrgico costura os retalhos soltos a uma só colcha. Queria que a colcha se estendesse sobre nós.
Eu não entendo o que falta. Eu não compreendo os motivos que impedem que certos acontecimentos de fato aconteçam. Já ouvi razões e concordei com elas, ainda que veja outras possibilidades concomitantes. Tento resistir ao seu carinho e ao seu olhar de quem capta tudo, mas se faz de desentendida. Ah! Por que não para e se entrega e se mete nos meus dias sem que eu precise convidar? Vamos sair para jantar? Você vem... Você veio... Você se achegou... Convidei e você invadiu. Educadamente, sem nada me dar, preencheu o meu peito de luz. Não me promete nada, nem sei se me dá esperança. Mas acho que ao dizer oi já me enxerga e se me beija a face é como se me pedisse e quisesse algo mais.
Uma estrela cadente risca o céu da clara noite que incendeia tudo. Mostra as estrelas e peço para que me mostre Mercúrio, Marte, Saturno... Sei lá. Pretexto. As estrelas me cativam, mas é nos seus abraços que eu quero estar. Ver as estrelas no seu peito me encanta mais do que Vênus no céu. Estou entorpecido e convicto, não me importo de ficar aprisionado nesse estado de euforia calma.
Você se despede e eu gostaria que me levasse para casa ou que eu pudesse te levar para a minha. Suplico a mim mesmo que não me permita desperdiçar mais nenhuma chance. Clamo a mim mesmo a ousadia de quem não teme negativa ou rejeição. Mas não suporto a ideia de me ver afastado de você, porque você insinua que não pode por agora. Tento me desvencilhar dos achismos para, quem sabe, encontrar não as certezas de suas lógicas, mas eu como soma de sua matemática. Desisto ou insisto? Será que ainda tenho essa escolha?
A certeza me visitou, mas ao me olhar nos olhos e entrar em mim, logo fugiu. Mesmo na imensidão, nas intrépidas multidões que possibilitam tantas escolhas, ainda assim foi em você que pensei. Inesperadamente, foi você com seus quilos de personagens que me veio à cabeça quando eu poderia ter escolhido qualquer outra lembrança e muitos outros futuros.
Mesmo com um mundo de possibilidades, a possibilidade que me faz o coração vibrar é aquela em que deito nos seus olhos e choro no seu sorriso. Eu estava certo de que você tinha passado. Passou pelas ruas que levam ao meu lar, quando o lar era você passando pelas minhas próprias ruas. Eu estava abstratamente no concreto. Aventura que não se esgota. E, se tento me distanciar, mais descubro. Mesmo ao cair na imensidão do mundo — desejo a imensidão do mundo, mas com você nela, comigo.
Convido-a para o palco. Sem me rebaixar a nada, te coloco como tudo. Exagero. A ilusão das luzes é mais doce do que serena, mas agitação é o que me provoca e te chamo para dançar comigo no palco. Venero o que apenas tenho direito de observar.
Observo, observo e observo... Antes de concluir, até porque nada é conclusivo, percebo que é verdadeira a afirmativa de que um homem pode mudar tudo, mas jamais muda as suas paixões. Você está se transformando em paixão, dessas que se tornam intactas e obrigatórias em cada verso meu, suplicando que eu seja qualquer coisa na sua matemática metódica, porém avassaladora. Porque a sua serenidade me constrói, tanto quanto a sua lógica me intriga.


Wanderson Nogueira
Observatório
Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.
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