OBSERVATÓRIO - 25/10/2014

sexta-feira, 24 de outubro de 2014
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Hoje é dia de crônica

 

O direito de errar no desafio de acertar

O direito ao erro é tão sagrado quanto o dever de acertar. Se um dos dois for mais importante, diria que o direito de errar é maior. Erramos no sonho de acertar. Ninguém sai por aí dizendo: "Hoje eu vou errar!”; "Dispararei minha metralhadora de verdades para errar”. Buscamos o acerto, dentro de nossas experiências e convicções. As convicções até podem ser vacilantes e errantes. Mas nenhuma convicção perdura perante a mentira ou o interesse individualista, a não ser que se escolha casar com ela e conviver abraçado a ela. O tempo, fatalmente, irá desmistificar e separar aqueles que morrem por seus ideais daqueles que vivem para seus próprios umbigos. Quem, afinal, herdará na história o papel de herói ou vilão?

Tenho esperança. Dessas imortais que só se encerram quando se consumam. Nascem dali, novas esperanças. O que não consigo é ser indiferente. A indiferença é pecado maior do que o ódio. Indiferença faz parte de quem não gosta de dizer o que tem que ser dito e tampouco se importa com o grito ou o silêncio. Passar indiferente é se recusar ao direito de errar e ao dever de acertar. Podemos até temer os riscos, mas não podemos tremer diante da tarefa de se arriscar. Decidir é muitas das vezes se colocar em risco. Colocar a cara na reta tem sido atitude de poucos, o que não é bom para o mundo. 

Vivemos situações complexas. Flutuamos em um cenário de guerra célere e de baixo volume. Somos bombardeados de informações falsas ou no mínimo duvidosas, venham elas da grande mídia ou do fervoroso universo anônimo das redes sociais. Gente que serve a um projeto desumano ou que é usado para servi-lo, algumas vezes sem saber, é claro. Temos decisões difíceis pela frente, onde muitas vezes somos colocados na escolha apenas do que é menos pior. E onde está o melhor? Por nascer... Por se construir... Mas, e enquanto não surge?  

Faltam sonhos a alcançar. E que bom que sejam tantos. Talvez, poderíamos ter realizado mais. Possivelmente, realizaríamos menos em outra realidade. Não dá para parar de sonhar. Confiar que há um longo caminho pela frente, mas que poderia ser maior ou mais distante do que já é! Um novo caminho seria melhor? Mas até para o novo caminho, é preciso sair do velho. E é preciso sair com as duas pernas para andar melhor, quem sabe, até acelerar ao ponto de correr nesse tal novo que não surgiu.  

Nosso confiança até pode ser traída, mas afinal, de quem é a culpa: de quem confiou ou de quem traiu a confiança? Erramos querendo acertar e não devemos nos martirizar por confiar. Confiar é bom. É algo humano. Che Guevara já dizia: "Não quero nunca renunciar à liberdade deliciosa de me enganar”. Enganos fazem parte do caminho.

É preciso respeitar as liberdades. A liberdade religiosa, de sexo e de voto. Todos nós temos os nossos pontos de vista. E no ponto de vista, nossos posicionamentos. A forma como nos colocamos, a soma da forma como nos posicionamos define o que a coletividade escolhe e quer. Eu ainda acredito na coletividade! Por mais que aceite que erros ocorrem, mas se ocorrem é sempre na busca por acertar.

Gosto muito de vários pensamentos de Pepe Mujica, presidente do Uruguai. Especialmente de um deles, em que diz: "Talvez esteja errado, porque eu erro muito; mas digo como penso”.

Diremos como pensamos. Nossas simples atitudes revelarão quem somos: primeiro como indivíduos para, então, dizermos quem somos como nação. Não podemos nos esquecer, no entanto, que todo aquele que experimenta da liberdade e de certa independência jamais irá querer voltar a outro tempo.        

A mim, me presenteio o direito de errar no desafio de acertar. Estamos longe do ideal, porque para mim ideal é uma revolução de caráter e afeto. Continuarei sonhando com essa tal revolução depois deste domingo e por muitas outras segundas-feiras, talvez anos de terças a sextas-feiras. Ainda corro para a tal satisfação plena em que escolho o que há de melhor. Enquanto esse dia não chega, me cabe escolher o menos pior acompanhado de um punhado de sonhos que vão muito além daquilo que já foi alcançado. Retroceder, portanto, jamais. 




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Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

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