Observatório - 21/09/2013

sábado, 21 de setembro de 2013
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Hoje é dia de crônica

 

Morada

Eu vi você, no meio do trânsito, enquanto chovia... Pedi para que tirasse o cinto de segurança que te impede de voar e o seu rosto ficou apenas no retrovisor.

O para-brisa de vez em quando não funciona e as lágrimas do tempo ficam no vidro. O vento sopra, mas elas insistem em ficar, voltar ou na melhor das hipóteses escapam para colar em outros olhos. É impossível. Nosso amor é impossível e não haverá sábados, nem domingos para nós dois. O trânsito parou.

Estamos na cidade de prédios cinzas que engolem as ruas e escondem as montanhas. Digo que as montanhas estão lá, ainda que os prédios nos impeçam de ver. Você acha segurança no medo e no medo fica. Escolhas acertadas, erradas, não sei... 

Eu sei que vi você, no meio do trânsito, enquanto chovia... Pedi para que tirasse o cinto de segurança que te impede de voar e o seu rosto ficou apenas no retrovisor.

O som da angústia canta que eu deveria ir. Há tempos fui, mas você voltou. Há dias voltou, mas ignorei querendo ficar. Retornar aos versos que me fazem ser lido. Enquanto todo mundo me lê, você apenas lê as mensagens que congestionam o seu celular. A avenida está com trânsito intenso e ninguém vê o giz que risca o asfalto. Os outros veem faixas amarelas e brancas, você vê pinturas a óleo e eu, estrelas de céu fixadas no chão.

Estamos no meio do universo em maio de 2050. O atropelo é de naves e foguetes que desviam de cometas. Diz que o sol explodiu, ainda que as lembranças de sua existência o tornem presente. Encontro nas metáforas formas de dizer que joguei você no canto da cozinha, quieto lá, porque não consigo deixar você ir.     

Eu vi você, no meio do trânsito, enquanto chovia... Pedi para que tirasse o cinto de segurança que te impede de voar e o seu rosto ficou apenas no retrovisor.

Tirei foto, guardei na memória a serena imagem de seus grandes olhos e sorriso arrebatador. Fiz música, deixei-a em segredo nos meus cadernos velhos e nas desgastadas cordas do meu violão. Escaparam-me algumas crônicas e outras consegui aprisionar para que nem você, nem ninguém pudesse ler ou interpretá-las. Confissões não servem para nada. Quem disse que alguém estava preocupado com as nossas respostas? Mas você...

Eu vi você, no meio do trânsito, enquanto chovia... Pedi para que tirasse o cinto de segurança que te impede de voar e o seu rosto ficou apenas no retrovisor.

Os vidros das portas dos carros abertos. Um ônibus quebrou logo na frente. O que mais quebrou? 

Mãos dadas. Morada. Estamos perdidos desde que nos encontramos. Todos dizem o que acham, mas são as nossas almas que sentem. Poderíamos dar de ombros para o mundo e seguir pela luz que surge quando cedemos às nossas tentações. Não são desejos ou necessidades apenas. São formas e contornos que nossas sombras precisam. Toda sombra precisa de amor. Todo amor precisa de paixão. Osho me disse: "Opte por aquilo que faz seu coração vibrar... apesar de todas as consequências”. Meu coração vibra da mesma forma que a primeira vez.

Eu vi você, no meio do trânsito, enquanto chovia... Pedi para que tirasse o cinto de segurança que te impede de voar, mas o seu rosto... O seu rosto...

 

Uma das mais famosas quituteiras da cidade, Dona Gilsa, Tia Gilsa ou simplesmente Gilsa arrasa na cozinha do bar América, onde comanda as delícias do famoso estabelecimento há mais de 10 anos. É dela a elogiada coxinha e todos os deliciosos petiscos do local  



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Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

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