Observatório - 21/06/2014

sexta-feira, 20 de junho de 2014
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Hoje é dia de crônica

 

O último texto

Este é o último texto que escrevo. A verdade é que todo texto pode ser o último. Talvez, este seja mesmo o meu último texto, talvez apenas ensaio para o último. A vida é, na verdade, uma infinidade de ensaios pra valer. Pode ser o último texto de breves reticências do intervalo que faço em mim mesmo. 

No meu último texto, gostaria de dizer que tenho mais a agradecer do que me desculpar. Se errei, foi na tentativa de acertar. Se acertei, é porque fui abençoado por seres maravilhosos que adicionaram seus milagres à minha existência, à minha essência. Sou assim, multiplicidade de milagres que fazem prevalecer minha fé, mesmo quando dói o peito e se sente castigada a alma. Sobreviverá meu espírito na história que fiz e em cada texto que escrevi. 

É possível saber quem é uma pessoa por seus textos. O que uma pessoa escreve de certa forma descreve seus mais profundos sentimentos. Eles estão lá e, ainda que escondidos, se fazem descobrir nas mais ocultas entrelinhas. Basta observar e se aprofundar um pouco mais.

O meu último texto... É, talvez seja um pedido selado para voltar depois de não sei quando. Depois que a guerra acabar. Depois que o meu destino se definir. Depois que eu voar ou cair. Cairia nos braços de quem sinto saudade. Voaria para os abraços dos momentos que me fizeram brilhar os olhos. Foram os mais simples, os mais singelos, os mais cotidianos. Descobri, dessa maneira, que a expectativa só gera ansiedade e que nada substitui a beleza de se juntar e se deixar levar pelo fluxo divino de nossas mais puras alegrias. 

Deixo me invadir pela poesia. Gostaria apenas que ela tivesse o poder de fazer o tempo passar menos rápido. Mas, ao contrário, ela intensifica tudo e o tudo voa mais veloz que o planeta flutuante no universo.

O meu último texto me traz lembranças. Muitas lembranças. Frases que em suas conectadas palavras me possibilitam músicas que aliviam o estresse. Lá, lá, lá, lá... Oh! Meu Deus! Será que é você na esquina? O que quer me dizer? É preciso estar atento. Tudo é uma questão de sincronicidade.

Poderia ter me sincronizado mais, ter me permitido mais, ter fugido mais das tolas educações que impedem de ver além e ser realmente quem sou e quem é cada ser na sua mais perene ousadia. Porém, é a mesma sincronicidade que me possibilitou olhar aqueles olhos, abraçar aquelas pessoas, amar o que fiz mais do que o que não fiz. Melhor ser insistente do que vazio. Melhor se entregar já nas primeiras impressões e descobrir no depois se valeu a pena. A sincronia é o que me deu, através dos meus apelos e atitudes, a inspiração para escrever muitos textos antes do último.

Antes do último, talvez, eu não tenha sido tão diferente. Talvez o último seja apenas extensão. O último também não é resumo do que me trouxe até aqui. É complemento. A peça do quebra-cabeça que se completa. Forma imagem de paz, angústia por querer ficar mais, alegria por ter vivido da forma como só eu pude viver. Para onde irei? Não sei... Certo é que vou querendo voltar, sem promessas de que ao retornar será melhor, diferente ou igual. Será como tem que ser! Virá com o que tiver que vir para mim. A única coisa que deve ser igual quando — e se — eu voltar a escrever é a busca... Na noite clara ou escura, fria ou quente, busco o caminho para o meu lar. E, o meu lar, ainda que com adereços e alegorias diversas e diferentes, é o mesmo de todos. O meu lar se chama felicidade.

 

· Nota da redação: Por determinação da Justiça Eleitoral, a coluna "Observatório” deixará de ser assinada por Wanderson Nogueira até o dia 6 de outubro. Ao longo deste período, Thiago Schaustz, colaborador responsável pela coluna "Aprendendo Tecnologia”, do caderno Light, acumulará as duas tarefas.


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Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

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Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

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