Observatório - 21/06/2013

sexta-feira, 21 de junho de 2013

A maior manifestação da história de Nova Friburgo

 

Eu estava lá! No meio daquele mar de gente, no despertar coletivo mais lindo de todos os tempos. Meus ancestrais e os ancestrais de todos os demais acordaram também! O sono de todos terminou, mas não o sonho de pátria livre, forte e nossa! Reencontrei companheiros que não via há algum tempo, enquanto estava com outros de linha de frente de trincheiras não menos antigos. Sei também que muitos outros companheiros estavam lá, mas no meio da multidão não tive a possibilidade de abraçá-los. No entanto, interligados pela alma de revolucionários, eu pude me emocionar com eles também! 

Nova Friburgo acordou! Finalmente, Nova Friburgo recomeçou! Tardiamente, mas antes tarde do que nunca. Os motivos para estar lá eram tantos... Pelo acúmulo dos anos. Pela poeira da tragédia que ainda causa alergia e asco. Cidadão no pleno direito em busca da real cidadania. Filhos do verde-esperança. Friburguenses. Mas mais do que brasileiros e friburguenses — seres humanos. A causa não é nacionalista! O motivo é acima de tudo humano.

De repente a gente se reencontra com nós mesmos. E, mais fantástico é que enquanto buscávamos esse reencontro dentro de nós mesmos, revela-se ele no outro que vem pra rua também! Precisava que todos fossem para a rua, em ato pacífico, para irrompendo a individualidade ver-se como parte de um todo! Somos mais do que sou! Acontecemos mais do que isolado em fato pessoal! A cidade somos nós e cabe a todos defenderem-na e lutar por ela! Juntos, nossas vozes se fazem ouvir. 

Não me entristece se muitos que estavam lá sequer sabiam o motivo de estar lá! O fato de se mexer e ir para a rua — é um primeiro passo para a transformação. O que une é o sentimento, muito mais do que a politização do sujeito. Ele está lá! Para saber mais! Para entender melhor! Aprender e se inteirar. Para fazer a diferença ao seu jeito! Mudando a forma ao participar. Isso assusta quem tenta escravizar o povo pela cultura do colonizado. Na terra do barão, dos contes e coronéis, mais de 10 mil presentes e outros 100 mil aplaudindo. Como não se emocionar? E, não dá mais para passar por cima daquilo que se tem que discutir: por que o preço da passagem de ônibus é esse? Por que a reconstrução da cidade é morosa? Por que a reconstrução não é transparente? Por que tem escolas sem professor e auxiliares? Por que a saúde está na UTI? Por que o trânsito faz a gente perder todos os dias minutos preciosos com a família e os filhos? Ora, conclamam em uníssono as vozes das ruas: queremos transporte público barato e de qualidade! Exigimos escolas com professores bem pagos! Queremos saúde de qualidade! Exigimos melhorias no trânsito de curto, médio e longo prazo! Não admitimos falta de transparência com a utilização do dinheiro de todos os brasileiros na reconstrução da cidade! Temos o direito de cobrar e queremos que essa reconstrução seja tão ágil como foi a construção dos bilionários estádios para a Copa do Mundo!

Como cidadão, brasileiro e friburguense eu estava lá! Contarei para meus herdeiros que na maior manifestação da história da minha cidade — eu estava lá. Não como fim, mas como começo! Não pelo carnaval, mas pelo sonho coletivo de sermos felizes! Não pela carteira de identidade, mas como ser humano!

Quando as fotos passarem e as memórias se aquietarem, ainda sim a luta continuará — eu sei. Talvez fique mais vazia, não menos solitária. Mas ainda sim eu sei, que a energia do que ocorreu no dia 19 de junho de 2013 servirá de alicerce para colocar o dedo na cara dos problemas e dizer: a revolução perdura e eu sei que vocês agora têm medo e na nossa coragem sabemos o que queremos, agora, mais do que o que não queremos!  

 

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Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

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Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

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