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OBSERVATÓRIO - 21/03/2015
sexta-feira, 20 de março de 2015
Hoje é dia de crônica
160 mil
É certo que todos nós morreremos. Esse é o destino de todos nós desde o dia do nascimento. Em média, 160 mil pessoas morrem por dia no mundo. Das formas mais variadas, todos os dias, 160 mil pessoas fecham os olhos para sempre. Não sei quantos bilhões já passaram por esse mundo. Sei que muitos, 6 bilhões, 9 bilhões, 12 bilhões... O céu está repleto de estrelas.
Se todos nós estamos fadados à morte, então por que fazer, trabalhar, planejar?
O que sei é que nas inúmeras estatísticas, se há 160 mil pessoas que morrem todos os dias, isso quer dizer também que há pelo menos dez pessoas que choram pela perda de cada um desses que vai. É difícil compreender e até aceitar. Perder alguém, ser impedido daquela convivência, de dividir o mundo com aquele ser tão único e exclusivo é tirar de nós a singularidade que é cada relação. Deixamos, então, a morte ser uma semente no peito que germina uma flor que é imortal. Regada pelo tempo, essa flor inquebrantável mesmo aos ventos que anunciam outras chegadas, chamamos de saudade. Desse jeito, ainda que pareça comum a morte, aquele rosto e aquela história não se perdem nunca. Preservam-se nessa mágica ligação que nos conecta para além daquilo que conhecemos.
A vida importa quando é importante para alguém.
Assim, o que fazemos durante a vida e na vida dos outros é mais importante do que o certo da morte. Não importa se todos nós morreremos. O importante é como vivemos. A dimensão da morte é a vida. E isso é mais assustador do que simplesmente morrer... Porque se morrer é fato, como viver cabe exclusivamente a nós mesmos decidir.
Você pode decidir sorrir. Você pode decidir sonhar. Você pode decidir cantar. Você pode decidir voar. A vida é um montante de decisões que, reunidas, escrevem a nossa história. Viver é uma habilidade posta à prova a todo instante. Será assim, permanentemente, até o último suspiro. Até o dia que seremos um desses 160 mil que partem e que têm pelo menos dez que chorarão e permitirá cada qual ao seu jeito nascer essa tal flor chamada saudade. A vida continuará seu rito — sempre. Seria egoísmo demais achar que o mundo acaba só porque o nosso mundo particular se foi. Nosso mundo, talvez, só se transforme. O ciclo da vida tal qual conhecemos seguirá o seu fluxo, pois essa é a natureza do universo em que estamos.
A vida só faz sentido quando compartilhamos a nossa para ter o compartilhar do outro.
Achar que é possível viver sozinho é não aturar a si mesmo. Não é preciso casar, ter muitos filhos ou amigos. Mas a vida precisa ser prazerosa, sabendo-se que também será, por vezes, doída. E, para ambos e em todos os casos, precisamos nos conectar, dividir, multiplicar diante dessa infinidade de possibilidades de encontros. Alguns serão mais marcantes, outros corriqueiros e até banais, mas independentemente de sua qualidade, todos construirão um pedacinho da nossa história. A vida é e existe para ser vivida em comunhão, no coletivo, ainda que sejamos indivíduos muito particulares. Partículas que, para se comporem, necessitam do outro, de outros.
Dirão: nem sempre teremos o poder da decisão. É verdade. Mas sempre teremos o poder da reação a cada questão. Seremos amados. Seremos rejeitados. Seremos elogiados. Seremos criticados. Seremos vistos. Seremos invisíveis. Escolheremos. Nesse fluir de contrapontos poderemos nos curvar ou fazer deles trampolim. Haverá sempre à espreita um elevador ou um abismo. O bom disso é que ao fim de tudo sempre existirá uma mola para cima ou para baixo. Esse imprevisível... A possibilidade de corrigir percurso é animadora.
Anima e vem pra vida! O dia é colorido e é sapecado pelas cores que escolhemos. Podemos porque sentimos e é o sentimento que dá sentido a tudo. Não são, afinal, 160 mil pessoas. São 160 mil mundos...

Wanderson Nogueira
Observatório
Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.
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