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Observatório - 19/04/2014

Hoje é dia de crônica
Renascer
É preciso renascer. Não apenas de tempos em tempos, mas
todos os dias e muitas horas em todos os dias. Renascer como o sol, que
imperioso surge todas as manhãs. Mesmo que as nuvens nos impeçam de vê-lo, lá
está ele... Nascendo, irrompendo, cumprindo o seu destino de nascer e se pôr
todos os dias.
Renascer para o novo e também para as mesmas coisas, ainda
que nada seja exatamente igual, por mais semelhante que se suponha. Renascer
para a esperança, que é o mais belo sentimento humano. Pela esperança
sobrevivemos. Na esperança estabelecemos as possibilidades nas impossibilidades
que insistem em se colocar no caminho de cada um. A esperança nos permite o dom
da teimosia. A mesma teimosia de quem chega ao fim da estrada, sabendo que não
foi o último passo que nos levou até ali, mas cada um deles. Quando a esperança
evolui para a fé, as dúvidas se aniquilam e a promessa nos faz renascer mesmo
na tempestade, mesmo quando não se abre o mar. Renascemos porque a promessa nos
concede a força capaz de fazer voar quando não se tem asas, cantar quando não
há voz.
Renascer é se redescobrir sem dispensar aquilo que se foi,
porque com o que se é, se aprende, e com o passado crescemos. Renascer é,
portanto, mais que morrer para velhas questões, mas reconhecê-las como parte do
processo evolutivo. Estamos todos aqui para evoluir, e renascer é evoluir,
tanto quanto retomar. Recuperar a serenidade de bebê, a curiosidade de criança
e a ingenuidade de adolescente apaixonado. Retomar rotas, sombras, sonhos e
tudo que foge de nossas mãos, quando a nossas mãos pertencem. Renascer é assim,
acima de tudo, permanecer em busca, mesmo quando se descobre que o mar não é
exatamente azul.
É preciso renascer. Crescer pode ser doído, sofrido, mas há
uma essência que nos conduz para todos os renascimentos que a alma necessita. A
vida pede vida e é natural querermos mais. Mais vida para compreender pelo
olhar, mais tempo para valorizar a saudade que fabricamos para na saudade ter
vontade de reencontrar.
A existência suplica mais perguntas do que verdades. Qual o
seu maior desejo?
Renascer não interrompe, no entanto, o objetivo maior de
aqui estarmos: a felicidade. Direito e dever de cada um de nós. Renasceremos
após nascer de novo muitas vezes e ali estará diante de nós a maior presunção,
desejo ou necessidade em existir: ser feliz! Mas, acima da própria felicidade,
está o mais belo milagre de todos: testemunhar a felicidade. Testemunhar a
felicidade faz feliz quem sente! Nenhum milagre pode ser mais prazeroso do que
o de testemunhar a felicidade. Tão simples, tão bela... A felicidade. Talvez
esse seja o combustível que nos faça renascer, o tal olhar que anima, o sorriso
que conforta, o silêncio que canta, a mão que estende o infinito no segundo, o
abraço dado sem ser pedido... Esse conjunto nos permite resistir às dores que
vêm e virão, mas que passam pela simples promessa de rever quem temos saudade,
recobrar os tempos que nutrimos nossos grandes momentos, ressurgir quando
parece que não dá.
É preciso renascer não para sobreviver, mas para viver
plenamente. Que você possa renascer todos os dias como o sol, consciente de que
muitas vezes não verão você renascer ao ponto que talvez nem você mesmo saiba
que está renascendo. Que possamos todos nós evoluir na esperança teimosa em fé!
Que a vida nos sorria mais que mate, pois quando renascemos deixamos de morrer
e surgimos para encontrar e reencontrar de novo.


Wanderson Nogueira
Observatório
Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
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