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Observatório — 18/05/2016
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O dia
Em 18 de maio de 2009 acaba a Guerra Civil do Sri Lanka. Após 26 anos de conflito entre o exército cingalês e o grupo separatista Tigres da Libertação da Pátria Tâmil, o governo saiu vitorioso. Segundo estimativas da ONU, de 80 a 100 mil pessoas foram mortas.
Observando...
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Palavreando
O tempo é surpreendente e os ventos do destino sopram com fúria e carregam para longe da gente todos aqueles que amamos ao ponto que um dia também seremos sugados.
Adeus meu pai. Adeus Nelson dos fogões...
Sou filho do Nelson que consertava fogões. Sou filho do Nelson que trabalhou na Aldeia da Criança Alegre por muitos anos. Sou filho do Nelson que com seu jeito, às vezes rabugento, conseguia ser simpático ao ponto de ser personagem cativo da Rua Dante Laginestra. Foram longas décadas de Waldyr Fogões, vendo lojas abrirem e fecharem. Resistência e resignação. Sou filho do Nelson, um dos maiores garanhões que conheci. Felizmente ou infelizmente, não herdei dele esse talento. Mas com ele aprendi o valor do trabalho - nunca conheci alguém mais trabalhador. Com ele aprendi a importância da honestidade - correção em tudo o que fazia.
Não direi que meu pai foi meu herói. Também não direi que foi meu melhor amigo. Mas, independente de ter me deixado aqui, agora órfão, repito que foi o melhor pai que eu poderia ter. Eu não seria nada do que sou se não fosse ele.
Tinha seu jeito próprio de amar. Tinha seu estilo de ensinar. O valor do trabalho eu aprendi no seu exemplo. Não saberia explicar o que significa a gíria inglesa workaholic. Mas ele era um workaholic nato. Viciado em trabalho, me fez trabalhar desde muito cedo. Já contestei. Hoje, agradeço. Se não fosse isso, não estaria onde estou. Ele me ensinou o quanto é importante, uma obrigação cotidiana, ser correto e honesto. Hoje, o mundo à minha volta é quem agradece por isso.
Na última conversa que tive com ele, eu disse: "Pai, obrigado por tudo. Eu te amo e quero que você fique bem. Não há nada que eu tenha que falar além disso. Eu só tenho a lhe agradecer. Te amo, pai!". Dei um beijo em seu rosto e seus olhos brilhavam marejados tanto quanto os meus. Ele não tinha como falar, mas compreendeu. Deus fez o milagre de ele poder me entender, quando a lucidez já não era sua companheira.
Muitos poderiam pensar que o milagre seria ele voltar a ser aquele homem forte, de voz grossa, inteligência lógica e pulso firme. Não. O milagre foi permitir que nos seus últimos dias pudesse reconhecer os que lhe amavam. O milagre foi premiá-lo com o descanso do para sempre ao invés de deixá-lo numa cadeira de rodas, sem lucidez, sem ser quem ele era.
Gostaria que ficasse. Não tinha esse direito! Amar é também deixar ir. A serenidade de sua despedida demonstra o quanto em paz estava. Deus foi extremamente generoso com ele e cabe a quem o amava deixá-lo ir, em luz. Talvez, Deus tenha premiado o bom brasileiro que meu pai foi. Um homem muito trabalhador que nunca teve a possibilidade de enriquecer. Mas ele amava o trabalho, não deixava faltar nada em casa e ainda era muito solidário. Tinha rigidez na educação com os filhos, mas coração mole para acolher quem de uma mão precisava.
Tantas coisas para dizer... Dos filmes de ação que gostava, do vício em doces, dos tempos de carteado, das piadas sem graça, das risadas engraçadas, do amor incondicional e declarado à minha irmã mais nova, da dor de perder a filha mais velha, das alegrias e tristezas apaixonadas que viveu com minha mãe, das suas tantas mulheres, dos seus tantos filhos, da sua montoeira de perfumes...
O meu pai é o Nelson da Aldeia que adotou mais filhos do que os que proveu de seu sangue. O meu pai é o Nelson do Waldir Fogões que fez amizades por onde passou. Entre um conserto e outro de fogão ou de aquecedor, conquistava a confiança de uma cidade inteira. Um cara mais popular do que eu mesmo. Um homem simples que nunca ligou para coisas materiais. Esse era o meu pai. Esse é o legado que meu pai deixa para mim e para meus irmãos. Como gostaria de engraxar de novo seus sapatos...
Pensando bem, talvez ele tenha sido meu herói. Talvez tenha sido meu grande amigo vascaíno que não gostava de futebol, nem de cerveja. Amigo por ter me ensinado tantas coisas, ao seu jeito, ao seu modo de ver e sentir o mundo. Muitas vezes eu não aceitava, fui o seu filho mais respondão, quase rebelde. Mas isso fez da nossa relação algo extremamente verdadeiro e intenso. Meu grande incentivador que dizia repetidas vezes o orgulho que tinha de mim. Eu também tenho orgulho de você, pai!
A minha missão de orgulhá-lo prossegue mais firme do que nunca. A missão de pai do Nelson trabalhador, bom brasileiro, homem correto e disposto foi cumprida com êxito.
Adeus meu pai! Dê um abraço em minha mãe. Todos nós sentiremos muitas saudades. Saiba que você era muito querido por Nova Friburgo! Te amo para sempre! Descanse em paz!
Nelson Luiz Nogueira
(16-09-1943/13-05-2016)
Wanderson Nogueira
Observatório
Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.
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