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Observatório - 12/04/2014
sábado, 12 de abril de 2014

Hoje é dia de crônica
Certas tardes
O tempo lá fora é nublado, mas nunca esteve tão claro. A ameaça de chuva não afasta o canto dos pássaros que insistem em olhar para dentro da janela que faz meus olhos mais atentos. Há poesia no ar...
Desperta aquilo que se aquieta no peito. Há dor na saudade, mas também amor. Persiste sorridente o sopro que evapora, mas comprova: há vida aqui!
Os dedos ansiosos pedem teclas de piano. Querem criar, pôr pra fora o que se sente e traduzir aquilo que não se descreve. Olhares sagrados talvez digam tanto, mas não tudo. Abraços calorosos talvez cantem, mas há canções para pé de ouvido que convidam: se achegue mais...
Aproxima mais que afasta. Abre os braços mais que a boca. É sonho bom desses que não deseja fim. Para que acordar? Deixa o pensamento invadir e o coração invadido tocar a alma que flutua como anjo sem asas em céus de baunilha.
Segura os ponteiros do relógio e pede sem medo de negativa: fica um pouco mais!
Deixa chover, enquanto canta. Deixa viver, enquanto vive. Vive! Há tanto por fazer, há tão pouco por pedir. Amanhece a tarde que anuncia a noite e pouco se importa com o que está por vir. Há vida agora e não importa a morte que vem amanhã ou depois, pois se é sabido que vem. Para todos nós, o entardecer vem, assim como o amanhecer que não garante novo entardecer.
As flores de maio são coloridas. Está aqui, não está? Emudece meus versos e enriquece meu saber sentimental de quem morre de amores para viver. A noite escura tem estrelas longínquas que insistem em revelar a luz que se reflete nos olhos de quem ainda tem fé. Nutre a esperança para se fortalecer. Enche de palavras esse texto para anoitecer a manhã preguiçosa de quem levanta mais por querer do que por precisar.
Compartilhar. A aventura se faz no dividir que soma e na soma que multiplica. Subtrai o peso que atormenta o ombro, o tempo é branco e brando é o sol. Sem vilões e heróis não há vítimas! Sem vilanias e heroísmos não há pecado, nem virtude, apenas vivacidade.
Vamos viver mil anos nessa tarde que faz lá fora e entra pela janela como os pássaros que observam além das estrelas. Dança com elas. Se não sabe dançar, tão-somente se deixa levar... Desliza venturosa a pétala pelo ar. Voa para o mar, mas se estabelece na serra que florida agora está. É você? Não preciso perguntar porque sei que é!
A vida segue, o mundo fica. O universo vai, a vida pede. Sonhos em expansão... Reticências nostálgicas que procuram a interseção. Conecta-se mais pelo mais do que o mas que produz dúvida que não gera emoção.
As dúvidas escapam voluntariosamente e cada uma vai sem sequer se perfilar. Vão todas as dúvidas, pois quando a fé invade nada mais perturba. Sem condenações, sem apelos por premiação. A vida acontece enquanto gira o mundo. Certos olhares causam, como certas tardes colorem o céu e desdobram as horas em paixão pelo que se é mais pelo que se quer ser...
Sopra o sol em luz. Acredita. Entenda que coisas ruins também acontecem às pessoas boas. Ninguém está aqui sendo punido. Todos estão cumprindo suas missões. Todos nascem para a felicidade. Certas tardes ensinam que é preciso parar e escutar o vento. Há força no ar e é forte a poesia que nos convida a ser fortaleza no caminho que todo passo tem que dar. Não estamos sós... Mesmo na saudade, nunca estamos sós...


Wanderson Nogueira
Observatório
Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
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