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OBSERVATÓRIO - 11/10/2014
sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Hoje é dia de crônica
Cara sem metade
Dizer-se "não sou romântico” já é ser romântico. Pudera. O romantismo mancha a boca de quem não vende a alma. Verdades não deveriam ser discutidas, nem postas à prova. Ainda mais em uma mesa com cerveja no caneco e vinho na taça. Se, ao menos, fosse o contrário. Vinho em um e cerveja no outro. Em suma: o romantismo no caneco e o "não existe cara-metade” na taça.
Concordância, sem a veemência dos certos, está na conclusão de que somos únicos que não aceitam metades. Metade é para a laranja inteira partida ao meio que até pode ser goiaba se tiver a minhoca inteligente do Ziraldo. Metade é para medir quantidade, não pessoa, gênero ou vivacidade. Estamos vivos! Atentos? Nem sempre. Nem mesmo quando leão está em aquário mais que peixes em libra.
Os dias correm para acontecer. Acontecemos. "Metade é o escambau!” – diria Millôr ou o Albert de uma mesa qualquer, mais que a fulana desta mesa. Relatividade. Ama física, mas tira dez mesmo em Língua Portuguesa. Dez? Nem em literatura nunca tirei. Peço votos. De felicidade. Nunca para o nunca, ainda que recuse o para sempre. Exagero e equilíbrio passeiam na mesma corda bamba para cair na igual lona. Poderia ser na mesma cama, trama, galáxia. Reticências... Silêncio. Dos inocentes. Como no filme. Nem perguntei se gosta de filme: gosta?
O antirromantismo é escudo do romântico por natureza. A negação é uma das mais fortes afirmações. Difícil compreender essa tal contradição evidente. Tal educação chama a atenção. Tal fuga amedronta a sorte. O tempo é voraz, ainda que dê carona para a inteligência de quem entende de cálculo. Um mês nem sempre é um conjunto de 30 dias, tanto quanto um conjunto de 30 dias pode ser um mês. Agosto, talvez. Quero te conhecer melhor...
É preciso sangrar. Morrer para as mesmas coisas, jamais. Uma vez basta. Ninguém aqui precisa provar imortalidade. A eternidade falece diante do gozo. O infinito é válido apenas quando se volta ao começo de si mesmo. O que se encontrará?
Tantas perguntas que parece entrevista. Poucas respostas. Não há divã ou psicólogo. Apenas pessoas com ideias e ideais. Verdades? Quem as tem, se podem ser mutáveis? Essência? Isso não muda, evolui.
Onde foi que começamos mesmo? Ah! Na realidade de que há escudo que segure a espada cujo destino é cortar, mas que é vital a flecha que escapa no vento do pensamento e muda a rota ao ponto de desviar dos muros que dão segurança à calma. A flecha flutua, enfim, no verbo reverberar. Persiste a vontade de se completar. Sem cara-metade, porque na verdade metades não há. Se encaixa. Se adapta. Martha Medeiros talvez saiba melhor dizer o que quero escutar e o que diremos depois.
Fato é: ora, o que é cara-metade se nem sabemos o que é cara completa ou por completar? O romantismo é a cura do antirromântico, tanto quanto o contrário.


Wanderson Nogueira
Observatório
Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.
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