Observatório - 11/01/2014

sábado, 11 de janeiro de 2014
Foto de capa

Hoje é dia de crônica 

 

Venta

O vento, de repente, soprou e uma folha caiu no meu colo. Vento de paz serenizando a minha dor. O vento sereno voltou de novo e derrubou apenas mais uma pequena folha. O vento se foi sem ventar mais nada. Dei a folha pequena a quem o vento mandou que eu desse. A outra guardei comigo para sempre!

As folhas se desprendem das árvores para alimentar a raiz. A lei da vida não é como a lei das letras frias dos homens. Mas também não quer dizer que não seja um tanto doída. Dói. Coloca um buraco no coração da alma. Vazio que nunca mais se preencherá, tanto como a folha desprendida não voltará para o mesmo galho. Pode até alimentar a raiz para ser a árvore inteira, porém nunca mais será aquela folha presa aquele galho, derrubada, poeticamente, por aquele vento. É tudo tão único. O único é tão milagroso que faz com que pensemos: "Como somos especiais”.

Divina é cada lembrança em imagens que o tempo insiste em embaçar. Mas quem disse que é preciso ver para sentir. É como o vento. Eu não o vejo, mas sei que existe e posso até chamá-lo pelo nome. Eu não o toco, mas reconheço o seu carinho. Eu não o tenho, mas ele me possui e conheço bem o seu cheiro. Compreendo então que por mais que me falte o colo, por maior que seja a saudade que só aumenta com o passar de cada hora, o meu mundo não se desfaz no corriqueiro vazio que a ausência me traz. É presente o milagre da eternidade. O encontro com o vento invisível me dá a certeza do reencontro.

Encontro nas fotos antigas, nos mimos que ganhei, nas promessas que não cumpri, nas músicas que cantei sozinho ou em dueto, em cada prato que experimentei, em cada evento que fui e nos que não fui, um pouco do tudo que me deixou no todo que sou. Sou saudade. Sou garganta doída, sou olho inchado pelas lágrimas que saem porque querem sair até mais do que precisam. Choro sem temor. Reconheço a dor como sendo minha! E a dor não me escapa nas lágrimas incessantes. Não me deixa, porque preciso lembrar que se a dor existe é porque ainda persiste o amor. E ainda que a dor se aquiete e só grite vez em quando, o amor perdura. É amor grande, amor que não acaba no aparente fim tal qual presumimos conhecer. É amor exclusivo que só existe uma vez na vida.

Deixa eu me despedaçar louca e naturalmente. Deixa eu ser folha que escapa sem querer para por querer alimentar a raiz. Deixa eu voar com capa, mesmo sabendo que não é a capa que me faz voar. Deixa... Deixa...

Esquecer. Está difícil esquecer que estou mais sozinho no meio da multidão. A multidão me abraça, mas só um lar me acolhe de verdade. O primeiro colo é também o último e único. É também o imprescindível para sempre, além do horizonte, além de tudo!

Como vai você? Disseram-me que está bem. Anoitece e voltei a ter medo do escuro. Quem me acudirá? Não queria deixar que fosse embora agora! Não queria que fosse sem me levar contigo. Mas você voltou apenas como vento ligeiro e marcante. Deu-me uma folha, entanto lhe deixei uma rosa vermelha. A rosa perdeu a cor... A folha permanece forte por encantamento, pela paixão que mantenho para além do sem fim das estrelas, muito além da história que se encerra no fim para uns, mas que é apenas reticências para mim. Queria ter dito mais vezes que te amo. Queria ter te abraçado e te apertado mais junto do meu peito. Queria ter te apresentado para todos os meus amigos e amores. Queria ter te levado a todos os lugares que gosto mesmo sem conhecer, sem nunca ter visitado. Queria ter visitado cada um deles com você. Queria ter te beijado mais a face, te feito mais feliz. Queria menos porquês e mais sabores que tive. A gente sempre quer mais... Tudo que é bom a gente quer mais! Eu queria mais você!

Volta vento amado e querido. Volta vento para me fazer sonhar de novo. Volta vento para ficar. Eu te peço, imploro... Pode até ir, mas não deixe de voltar. Sei que tem que ir, mas vá com a certeza de toda imensa saudade que vai deixar... Que já deixou... Descansa... Aceito... Choro com a emoção dos fortes que reconhecem o amor vivido e que vívido permanece. 

Para sempre vou te amar!

 



Foto da galeria
Mãe de quatro filhos, avó de nove netos, Irani está sempre de bem com a vida. Gari há 26 anos, o sorriso é a sua marca registrada. Sempre disposta a fazer o seu serviço da melhor forma possível, sempre disposta a ajudar. Natural de Nova Iguaçu, Irani veio para Nova Friburgo com apenas 10 anos de idade e daqui nunca mais foi embora.
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Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

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