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Observatório - 08/03/2014
sábado, 08 de março de 2014

Hoje é dia de crônica
O amor é carnaval
Suas cores brilhantes, seu som contagiante. A energia que transporta pelo ar e que energiza tudo pelo simples respirar. Não dá para dormir ou se dorme em paz, não pelo esgotamento, mas pela convicção da alegria suprema. O amor é assim como o carnaval. Pede o rodopio e requer rebolado. Se há mestre-sala, se necessita de porta-bandeira. Requer esforço conjunto para seguir em frente e evoluir perfeitamente. Embala na harmonia. Conecta pela junção de sonho, imaginação, realidade. É expectativa, explosão de sentimentos em segundos daquilo que pode ser o desfile e daquilo que se deixou na passarela ao chegar na dispersão. É refrão forte que se aprende rápido e se repete como mantra de pedidos perfumados lançados ao céu.
Mas a festa se vai na quarta-feira de cinzas porque dizem que pode ser cruel a eternidade. Todo carnaval tem o seu fim. Há um ano inteiro por viver até chegar o outro carnaval. A folia é intensa e pela intensidade vira nostalgia. Lembrança que no tempo cantará os antigos carnavais de salões e beijos roubados, que se aquietam na continuidade do encontro, que perdura pelo menos até o fim do reinado de mais um momo.
Eu não quis acreditar que o amor fosse como o carnaval, que acaba. Eu só quis acreditar no amor infinito em visita ao tempo finito. O desfile acaba. Os blocos, ainda que de resistência, uma hora precisam deixar a avenida. O som tem que cessar para que todos possam dormir. Eu não quis dormir. Eu não gosto de dormir. Meus olhos pedem olhares, tanto quanto meu coração pede preenchimento. Eu quis crer que o amor é possível para todos e que a eternidade pode não ser tão cruel assim.
A verdade é que nem todos estão felizes e a felicidade também pede descanso... O amor não deveria. A verdade é que a ilusão é passageira e a pirotecnia precisa ser alimentada, mas não pode engordar para evitar o fim do encantamento.
É na solidão da noite que percebemos que, mesmo com todas as estrelas estendidas no varal de nossas escuridões, o quão grande pode ser o pequeno quarto em que tentamos nos aprisionar. Quando a festa acaba e as ruas fazem silêncio, pode haver um grito enorme preso na garganta, mas que pela lei do silêncio, guardamos. Porém, mesmo guardado, enfurece por dentro e quebra as janelas de nossas almas a fim de alertar que amar não é fácil.
Penso, penso como se fosse necessário pensar para respirar. Queria que amar fosse como respirar... Você não pensa para respirar. Você não deveria pensar tanto para amar. Deixa acontecer como a música que invade a mente do compositor. Não é necessário planejar deixar. Apenas deixar florescer como a rosa na roseira.
O carnaval acaba e o amor também. O sono não vem e a cama é grande, ainda que menor que a noite que vara nos nossos anseios. Espera. Espera aguçada pelo próximo carnaval. Haverá novo amor? Existirão novas chances? Esse carnaval acabou. Todo carnaval tem o seu fim. É tão passageira a folia. A escolha do enredo poderia ter sido melhor!
Muitas vezes procuramos, insistimos em procuras equivocadas. Mas até saber que é equivocada, o samba atravessa, a bateria erra, o conjunto se desfaz. O confete e a serpentina que chovem viram lixo no fim. O que precisamos encontrar muitas vezes está ao lado, tão perto. Ali, ao alcance. Mas vislumbramos um topo de expectativas que frustram ou não valem o esforço! Vale o esforço de ver. Perceber o que realmente quer ser para você, o que está para você com a coragem de querer se dar querendo com desejo de receber nada além de carinho e atenção!
O amor é carnaval. Festa, euforia, emoção e fim. Nem todos podem ser campeões! Todos podem desfilar, mas todo desfile tem o seu fim! Todo carnaval tem o seu fim! Há que se preparar melhor para o próximo carnaval! Vestir nova fantasia e embarcar em novas alegorias...
Até o ano que vem!

Wanderson Nogueira
Observatório
Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.
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