Observatório - 07/09/2013

sábado, 07 de setembro de 2013

Hoje é dia de crônica

 

Sopro

A vida é um sopro. No sopro vem. No sopro se vai.

Nossa vida é um instante que durando pouco ou muito é sempre menos do que gostaríamos que fosse. Escapa pelos dedos e em bobagens cotidianas perdemos tempo. É preciso aproveitar o tempo, fazer bom uso dele, porque inevitavelmente o tempo se esgota para todos. E, todos nós sabemos disso, ainda que nem sempre usemos o que sabemos na nossa prática diária, afinal, se o tempo se esgota para todos, o que é que temos feito dele?

Assim, declarações soltas de amor, abraços, sentimentalidades simples são os melhores investimentos a serem feitos. Não há porque esperar... Não há porque insistir em discussões que não levam à nada, em teorias que não são práticas. O agora está indo não se sabe para onde e até quando. Pode ser que o agora não se estenda, mas esse agora poderá ser pequenas maravilhas que se transformarão em lembranças. Mágicas lembranças. No final o que ficam são as recordações.

Não serão lembrados bens materiais, nem nada que seja palpável, mas lembraremos o vento nos rostos daqueles que amamos, os abraços das pessoas que veneramos, os olhares que nos afetam e nos dão o direito de descobrir Deus na terra. Lembraremos de sorrisos dados do nada, da voz em nossos ouvidos e que de repente invadem nossos sonhos. Será recordação uma frase inesperada, um convite para apreciar as estrelas com a promessa de que um dia seremos estrelas também. Promessa de que ao olhar para o céu se saberá que daqui se avista quem se ama e quem se ama nos vê de lá...    

Quando escrevo isso até parece que eu sabia que perderia muito por ganhar. Ganhar pessoas, histórias maravilhosas com essas pessoas, convivências das quais não trocaria por nada. Cada segundo precioso tem valor inestimável. Ao tentar entender as perdas, compreendi o quanto ganhei, sem saber que estava ganhando. Ganhei tanto que dói quando vem a certeza de que não poderia ganhar mais nada além daquilo que naturalmente passa a ser saudade. Saudade só tem quem amou...

A vida é um sopro. No sopro vem. No sopro se vai.

Iremos ao paraíso? Estou no paraíso! A melhor paisagem é aquela em que as pessoas estão. A melhor canção é o barulho na sala e também o silêncio do aperto de mão, do abraço, do olhar que brilha em cada encontro. Encontros são para ser mesmo inesquecíveis. Não o último ou o primeiro, mas todo encontro, pois todo encontro é a mais real possibilidade de comprovar a existência dos milagres.

Quando caminho sozinho é que percebo o quanto sou dependente. Pois quando estou sozinho o meu motivo para continuar é ter a chance de olhar uma vez mais para aqueles que eu admiro e me moldam. Sou cerâmica feita a muitas mãos. Tenho marcas profundas cheias de tesouros misturados à minha massa. Levo na alma cada luzir desses tesouros que são todos os caminhos que caminham pelo meu caminho. Pequenino, me guardo em cada coração que pulsa para mim e intenso me diz que o melhor não está por vir, pois o melhor já está aqui.    

Se a vida é mesmo um sopro que meu sopro se espalhe em muitos outros sopros e que dure em mim o quanto tiver que durar, o quanto me for permitido durar... Mas que eu saiba apreciar o que me for concedido e que eu não deixe de dizer nada, absolutamente nada, enquanto meu sopro perdurar, enquanto o sopro de quem amo persistir.

A vida é um sopro. No sopro vem. No sopro se vai.

Se voar é possível? No sopro vôo aos seus braços tanto quando chego, tanto quando parto...

 


 

64 anos de profissão, o capixaba Lauro, erradicado em Nova Friburgo há mais de 40 anos, é responsável por cortar o cabelo de muita gente, incluindo gerações e gerações de famílias inteiras. Há famílias em que o avô, o pai e o filho cortam cabelo com Seu Lauro e aproveitam a oportunidade para conversar sobre tudo um pouco na cadeira de sua barbearia, atualmente na antiga Rua São João. 


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Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

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