OBSERVATÓRIO - 07/03/2015

sexta-feira, 06 de março de 2015
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Hoje é dia de crônica

 

À espera

Um dia chega. Um dia visitará a minha vida. Que eu esteja atento, mais que surdo. Que eu esteja pronto para ser para ela o que ela sempre sonhou. Um dia vem como o vento, que chega sem estardalhaço, anunciando chuva branda. Uma hora chega da forma mais inesperada, adequada.

Pode ser que demore mais, mas há de se conter a minha ansiedade. A espera é aprendizado. Preparo. Sou (somos) assim como semente que germina, cresce e dá fruto. Há algumas sementes que simplesmente levam mais tempo para encontrar o sol. Algumas precisam de mais água, outras menos. Toda semente merece a chance da fotossíntese. Sabe-se, no entanto, que não é a quantidade de choro que suspira sorte. É o tempo. Cada coisa no seu tempo. Cada fato no devido faro do relógio. Acerta esses ponteiros! 

Vai chegar. O amor vai chegar e se estabelecer na minha vida. Repousa em toda a vida da forma que escolhemos. Aconchega, pode vir, pode chegar. Eis a minha escolha decidida.

Os amores negados não foram abandonados. Eles terão também a sua devida sorte com alguém que os mereça. Amar não é se adaptar. Amar é gostar de imediato e somar com aquilo que temos sem inventar o que não somos. Amar é mais integração do que nutrição. 

Por vezes, achamos que merecemos o amor que damos. Não! Teremos o amor que nos cabe, que é um amor que não cabe — extrapola. E espero! Espero com esperança forte comparável à fé. 

Espero sem me cansar de esperar. Aguardo enquanto me engano e não direi que foi dissabor cada amor que não deu certo. Doces foram os enganos até se revelarem infrutíferos. Se não deu mais, não é abandono, mas correção de percurso. É divertida a impossibilidade de se ter e sua jornada em querer se provar o contrário. Haverá, no entanto, aquela insistência saudável que frutificará e se provará imune a qualquer engano. Será o amor que se diz para toda a vida, para a vida toda.

Eu quero conhecê-la. Achá-la. Já estou aqui me deixando ser achado. Não guardo mais sorrisos para quando chegar. Sorrio desde agora para me perceber mais rápido. Espero querendo acelerar o fim da espera. E aí sem a carência tola de quem deixa entrar qualquer coisa só porque está com o peito ávido por abraço. Não. Há certo cuidado, ainda que ausente de receios. Medo? Medo, todo mundo tem. Mas sem medo, qual seria a graça da aventura? É tão fascinante o incerto.

Colho olhares mais do que pesco estrelas. Imensa, a lua no céu parece querer engolir a Terra, quando em verdade quer apenas namorá-la. O vento parece escrever seu nome. Mas como decifrar, se eu não conheço a língua do vento? Cabe a espera que não desespera o meu coração que flutua na deliciosa incerteza de se descobrir. Quem eu sou? 

À espera, imagino. À espera, canto. No canto da sala, recordo momentos pelas fotografias. Viajo no caminho de mim mesmo. Sei que meu destino aportará em certos braços que me acariciarão mais a alma do que a face. Sei que toda a impossibilidade se diluirá na possibilidade que são todas as coisas. Sei que nesse mundo tão grande, haverá de se encaixar uma peça a mim. Se para se completar ou se para coincidir? Eu não sei. Estou disposto até para o oposto. Só não me oponho ao amor e a esse desejo de ser de alguém que me queira também, tão bem...

Há de chegar o dia e brilharão meus olhos como de criança que vê o mar. Há de encerrar a espera não mais momentaneamente. Sem pretensão de eternidade, mas convicto de plenitude.

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Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

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