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Observatório - 03/08/2013
sábado, 03 de agosto de 2013
Hoje é dia de crônica

Agora posso perceber o quanto a vida escapa pelos dedos. O tempo some como neblina na manhã (quando você lembra que ela existe, apenas rastros esparsos estão pelo caminho). A gente, quando é criança, quer que o tempo voe para então ser jovem; quando chegamos à juventude, queremos logo ficar adultos; ficamos sonhando com as empresas que vamos administrar, com as aparições públicas que vamos ter.
O mais engraçado é que meus pais já diziam: "Quando você perceber que cresceu, vai querer voltar no tempo e até mesmo vai se condenar por ter desejado crescer”. Nunca concordei muito com meus pais, principalmente de uns tempos pra cá. Mas agora, não dá pra negar que eles estavam certos.
Enquanto sonhava em crescer, eu crescia. Enquanto almejava a felicidade, eu era realmente feliz, sem perceber, é claro.
Hoje, olho para trás e me assusto ao perceber que a estrada deixada é longa e que a estrada da frente, a cada minuto, fica menor e que, em algum momento, o aparentemente distante ficará tão perto, tão perto, a ponto de não mais haver estrada.
Agora, só agora, assustado, é que parei para ver os retalhos dos momentos que costurei. Retalhos que formam uma grande colcha de amigos, músicas, amores, retratos, poemas, filmes, medos, sonhos que joguei fora, defeitos, sonhos que não perco, virtudes, mágoas, qualidades, arrependimentos, aprendizados, palavras, ideias, ideais, ideais, ideais...
Desde que cheguei aqui neste mundo de loucos, sabia que aquele meu primeiro choro não seria o último. Chorei quando fiz xixi nas calças; chorei quando ralei o joelho na pelada lá da rua; chorei quando caí de bicicleta e desisti definitivamente de me equilibrar naquela coisa de duas rodas (como podem!); ah!, chorei também no primeiro dia de aula e chorei muitas e muitas vezes e sei que vou chorar quando alguns amores partirem e quando outros chegarem.
Chorei sim, mas sei também que sorri. Sorri quando minha irmã mais velha me fazia cócegas; sorri quando meu irmão contava piadas, algumas até cabeludas; sorri quando dei meu primeiro beijo; sorri todas as vezes que vi meu primeiro amor; sorri quando cantei no chuveiro (como cantava mal!); e vou sorrir outras vezes, muitas outras vezes, vou até sorrir chorando quando me casar; quando tiver filhos; quando comprar um AP; quando meu time for campeão de novo; quando reencontrar velhos amigos...
A vida parece mesmo uma aventura, às vezes sofrida, às vezes alegre, e, na maioria das vezes, ambas as coisas.
A gente envelhece esperando dádivas, quando, na verdade, elas estão bem ali, na nossa frente. Tão puras, simples, verdadeiras, apaixonantes.
Quando se é jovem, a gente acredita que o tempo é tão criança quanto nós, mas, na verdade, o tempo nos faz desistir de algumas crenças, como a de que não se pode voar como o Super-Homem.
Só espero que eu nunca perca a fé nas pessoas, porque é bom acreditar na humanidade. Espero também que eu nunca deixe de sonhar em ser eternamente jovem, porque juventude não está na pele, mas na alma, e, eu sei que, se eu me conservar jovem, vou poder para sempre continuar tomando sorvete sem receio de ficar com bigode de chocolate; vou poder continuar ouvindo música bem alta, sem vergonha da bronca do vizinho; vou poder dormir depois da uma, mesmo que eu tenha de acordar as seis e vou poder embalar com o coração os ideais de que amigos são os irmãos de alma e coração; de que vale a pena amar e dizer que ama a quem se ama; de que quando se tem um sonho no coração, também se tem a força para realizá-lo; de que não há idade para vencer, toda idade tem vitórias se for entendido que a vida é um oceano de possibilidades e mais vale morrer pelos ideais do que viver sem tê-los.
Se eu for forte, se eu para sempre for jovem o suficiente, não vou temer se faço 23, 34 ou 45, apenas vou viver um dia de cada vez, às vezes ansioso com o amanhã, mas sem ser refém dos desejos, somente e tão-somente, colhedor de dádivas da imensa colheita chamada vida.

Sandrinha, famosa figura da culinária local. Auxilia nos deliciosos pratos de um famoso
restaurante da Rua General Osório, com destaque para os bolinhos de batata-baroa. Sandrinha também
tem uma diversidade de receitas próprias de sucos naturais medicinais, que também serve no restaurante
em que trabalha. Sandrinha é personagem do dia a dia friburguense.

Wanderson Nogueira
Observatório
Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
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