Colunas
O vento
Escuta o vento, ouve o que ele diz. Que música traz? Que palavra soletra? Que poema declama? Qual a mensagem? Ouve com atenção, ajuda o vento ainda que o vento não necessite de auxílio e espalha o que ele diz.
Faz da vida canção, não a use apenas como uma saída para a morte. Seja forte, suporte ser fraco. Seja rápido, mas saiba ser lento. Se atire, mas reconheça o retirar-se. Fale o quanto quiser, mas aprenda a escutar. Seja o medo, admita se amedrontar. Avance, pare, recue para recomeçar. Acredite, mas saiba questionar. Seja ingênuo para saber diferenciar. Cante ainda que não se faça entender, mas entenda que todo mundo precisa de uma canção para tocar alguém, tocar a si, fazer parte do todo ilimitado que é estar num tempo-espaço que jamais existiu e que nunca mais existirá, ainda que muitas eras surjam e tantas outras esfaleçam.
Faz do tempo palavra. Sílaba que não se esquece... Palavras que lhe fazem sentido pleno. Significado significante que dispensa recorrência ao dicionário, à enciclopédia, à consulta. Escolha bem uma, duas, três, centenas dessas palavras e tatua na alma. Amor, amizade, fé, trabalho, luta, paciência, descanso, solidariedade, compreensão... Reconheça todos os antônimos a essas. Essas palavras escolhidas... Não fuja delas, mas tema. Afaste-as de seus atos, saiba, no entanto, que elas viajam ao seu encontro. Te incomodam, buscam te viciar com desejos vãos, promessas que te incitam, que te colocam no prumo do barco, mas que longe do horizonte te afogam. As letras que formam uma palavra têm poder, saiba optar por cada uma que coloca no seu destino.
Faz do sonho poema. Todos têm objetivos. Caminhamos para chegar a algum lugar, a alguém, a plenitude de ser o que é do jeito que se quer ser. Decora os versos de seus sonhos, conte aos outros para se comprometer a torná-los escrituras nas pedras. Não precisa rimar. Dispense métricas, formas, tendências e faz do poema algo tão seu para que nem os literatos e catedráticos consigam encaixá-lo no barroco, parnasianismo, romantismo ou modernismo... Mas também não se preocupe com isso. Copie poemas, misture poemas, mas seja o seu sonho. Sonhos também mudam, não tenha receio trocar de poema, adicionar versos, costurar poesias, mas sonhe. Sonhos são sagrados e nada faz alguém tão único quanto um sonho.
Viva até cantar. Soletre os dias até ter uma semana, um mês, um ano... Sonhe até realizar. Seja feliz, porque todos merecem a felicidade, desde que trabalhem pelo que acreditam. Respeita o ser livre que é cada um e faz bom uso da própria liberdade. E ao alcançar a felicidade, voe, voe baixo, voe alto, voe comigo... Passe por entre as janelas e portas. Beije as folhas das árvores. Conduza as ondas do mar. Acaricie as montanhas e também aquele rosto... Conte a todos que você é como o vento e quem quiser também pode ser assim... Como o vento.
Wanderson Nogueira
Observatório
Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
Deixe o seu comentário