O dia em que você nasceu para mim

sábado, 02 de dezembro de 2017

Era dezembro quando a primavera nasceu no verão. Eu vi o teu olhar e sorri para o seu sorriso. Não foi em vão o esbarrão naquela esquina em que, na multidão, percebi seu olhar e sorriso na vastidão. Seu sorriso me chamou ao mesmo passo que seu olhar não convidou. Na contradição optei pelo que queria, e, poeta de minhas próprias poesias, migrei para a viagem que queria flutuar. Desertei do sorriso entregue, quase que vadio, despertando para o olhar que se fazia enigma ao mesmo tempo que dizia que não havia nada a desvendar. Troquei telefone, astrologia, numerologia, identidades, e me fiz menos exagerado do que sou para não te assustar. Meu cartão de visita foi meu coração, entregue sem saber que se entregava para além da intensidade, mas porque nasceu ali também o impacto da sua existência na minha existência. Você nascia para mim como se novembro fosse. Primavera no verão de uma estação que não termina.

O dia em que você nasceu para mim eu despertei como quando rompi o ventre de minha mãe. Descobri que já não havia mais volta e estar em você é tão bom, ainda que o caminho se faça de surpresas boas e ruins. É esse misto de acontecimentos que faz tudo ser mais interessante. Instigado me faço caça para você caçador, enquanto coleciono subterfúgios para chamar sua atenção. Às vezes atende, por vezes não entende, mas dói mesmo quando some. E retorna. Revolta. Repugna minha devoção.

Cada história é uma história. Traumas do passado que já não pertencem ao hoje confundem a jornada de nascer, esperar, despertar... Mas a jornada existe desde que nasceu para mim. A insegurança persiste no que vem depois. E o misto de emoções se apresenta como carrossel girando pintando cores confusas, quase indefiníveis. Não pedi para ser feliz o tempo todo e não tenho compromisso com isso. Chorar de vez em quando faz parte.

O amor é fácil. Não pode ser difícil amar. São desculpas essas aflições que recuso o drama para amar. Essa complicação não leva a nada. Não diminuo a temperatura para te conquistar. Resfrio o vermelho apaixonado para seguir. Fiel ao que sinto, mas aberto também ao que os dias me ofertam para além desse sentimento. É preciso aquietar a emoção para se prumar. Não. Não vou me jogar para me afogar. Mas posso me jogar para voar sendo você minhas asas ou não. Talvez você seja o ar. Pode ser que seja toda escuridão que sustenta as estrelas. Pode ser toda a luz ou tudo mesmo.             Quem sabe é apenas quem me mostrou que o amor existe no dia em que você nasceu para mim. O amor disfarçado de dificuldade, mas faço pacto com o que tentam me fazer acreditar: o amor é fácil e não há porque deixar qualquer que seja a pessoa, até si mesmo, complicar. É o enredo que não tenho permissão para roteirizar.

A primeira vez que eu te vi. O dia em que nasceu para mim. As estrelas estavam penduradas na lua crescente. Sem ascendente ou mesmo signo, nascia ali para mim a convocação para suspirar e ser o que tiver que ser. Demiti a indiferença para deixar o peito aberto, para ser habitado ou mesmo vazio, com a consciência de que passei a reconhecer sua própria existência na minha existência, sua biografia na minha biografia. Porque eu te amo de um jeito simples como o amor é. E respeito o jeito que me ama ao ponto que o amor não despe a gente, mas também jamais se irá mesmo se um dia vier a desnudar nossos corpos para revelar o que já vemos, o que sentimos... Basta permitir.

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Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

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