O amor é uma escolha

sábado, 04 de agosto de 2018

Pelos próximos meses, a jornalista Laiane Tavares assina a coluna no lugar do titular Wanderson Nogueira. A Justiça Eleitoral determina que candidatos nas Eleições 2018 não podem apresentar, participar ou dar nome a programas de rádio e TV. A regra não se aplica aos órgãos impressos. Mesmo assim, o colunista e A VOZ DA SERRA, em comum acordo, optaram pela alteração neste período. Wanderson Nogueira volta a assinar o Observatório em outubro, após o período eleitoral.

Nós crescemos acreditando que as boas histórias de amor envolvem desafios, destino, poesia, música e uma boa pitada de dor e sofrimento, que é para testar o limite do sentimento. Afinal, boas histórias não começam por um final feliz.

O tempo passa. E se você não for feliz para sempre logo na primeira tentativa, ou se tiver de recomeçar em algum momento, e possivelmente até algumas vezes, pode precisar de uma base mais sólida do que comédias românticas, músicas da Adele, e um poema de amor do Leminski para entender o processo que envolve essa busca.

Duas coisas podem te ajudar, a maturidade e a ciência. Maturidade para entender que as histórias que te contaram sobre o amor são, na verdade, partes fragmentadas de um processo que envolve muito mais confiança, entrega e intimidade do que um encontro de almas escrito nas estrelas.

O amor é sim um encontro de almas, mas não nasce de um esbarrão casual na esquina. Nasce de uma entrega, por isso, é uma escolha. Existe todo um campo de estudos dentro do que podemos chamar de ‘ciência do amor’ desenvolvendo experimentos e pesquisas que consigam desvendar os segredos que envolvem as possibilidades do amor de acordo com o comportamento humano.

Exercícios que incentivam a cumplicidade, a confiança e o interesse mútuo já tiveram sua eficácia comprovada por estudos de psicólogos, neurologistas, antropólogos e neurocientistas de diversas partes do mundo. Vamos falar de um deles!

Em 1997 um experimento liderando pelo psicólogo Arthur Aron terminou em casamento. O objetivo do estudo era o de gerar intimidade, não necessariamente amorosa, de forma gradual. Os pesquisadores buscavam criar através daquele experimento uma relação próxima no contexto de um laboratório, de modo que fosse possível manipular e estudar as variáveis desta relação.

Aron, desenvolveu um questionário com 36 perguntas que faziam com que as pessoas se abrissem aos poucos, seis meses depois de participar do experimento, um homem e uma mulher que foram ‘cobaias’ estavam casados.

Em 2014 a escritora Mandy Len Catro, cansada de estar à disposição do acaso para o amor, decidiu aplicar o experimento em sua vida. Com algumas adaptações, como por exemplo, o parceiro escolhido não era um completo estranho, era alguém que conhecia de vista. O resultado foi narrado por ela em um artigo publicado no ‘The New York Times’ em 2015 intitulado “O amor não nos aconteceu. Tomamos a decisão de nos apaixonar”.

Não é por ser uma escolha, que o amor perde o romance. Na verdade, ele continua sendo um desafio épico. O que o experimento do Arthur Aron provou, na prática, é que acima de tudo, o desenvolvimento deste sentimento envolve confiança desde o princípio. Todo mundo quer amor, mas ninguém está realmente disposto a sair se abrindo por aí. Falar sobre sonhos, medos, defeitos, relações familiares num primeiro encontro pode te deixar suscetível demais. Dá medo, e pode mesmo terminar com um coração partido, uma ressaca moral e você se sentindo idiota. Mas é nessa suscetibilidade recíproca que consiste a construção de algo verdadeiro.

Não deveria ser um segredo, não deveria ser um artigo, não deveria ser tão difícil. Mas, no geral, a humanidade está com um pé atrás. Se decidir tentar, as perguntas para o experimento estão disponíveis na internet, é fim de semana e você tem uma escolha. 

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Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

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