Colunas
A novidade
Foi num dia desses casuais, numa tarde qualquer de setembro. Ainda não era primavera e o tempo seco de agosto ainda mantinha o ar mais pesado do que o habitual. Gente se esbarrando pelas avenidas, atropelando-se, uns aos outros, sem perceber que no congestionamento das calçadas, ainda que todos desconhecidos, esbarravam-se em gente. A falta de percepção do outro é mais evidente nesses momentos apesar de ser uma constante humana.
No vai e vem desse rodo cotidiano, tão chato e repetitivo é que avistei a Vanda. Uma negra bonita e simpática, cujos olhos são preenchidos por uma bondade, quase que não humana. Cumprimentei-a com a mesma educação de sempre. Foi aí que ela me perguntou: “Quais são as novidades?” Respondi: “Nenhuma, tudo na mesma de sempre!” Ela retrucou: “Nada é como sempre, tudo muda e toda hora o mundo está cheio de novidades!” Foi aí que despertei...
Tudo se renova a cada novo segundo permitindo que tudo e todos se transformem. A novidade vem no passo seguinte e no intervalo desses passos. Reside nos rastros acumulados atrás e na ânsia de chegar mais à frente. A novidade se acumula na natureza, na forma como vemos, no jeito que agimos, no sonho que perdemos, na porta que abrimos. Não se prende, nem se restringe. A novidade é veloz como um cometa, risca o céu competindo com as estrelas e na confusão de luzes, por vezes, passa sem que percebamos que ela já deixou de ser novidade para já ser novidade de novo.
É preciso atenção, mas também distração para entender que a novidade nos visita, nos olha de frente e nos dá a oportunidade ilimitada de fazer tudo diferente. Mas estamos tão cegos e ocupados que achamos tudo tão chato e repetitivo que nos acomodamos em nossa agenda repleta de prazos e pouco espaço para se fazer feliz. E é tão tolo acreditar que a felicidade nos espera no fim. A felicidade está dentro da gente o tempo todo, mas adiamos esse encontro maravilhoso por medo, por incoerência e por uma crença absurda de achar que as coisas ficam bem apenas no derradeiro fim.
Então pra que viver? A boa nova é a vida! A novidade é a vida que nunca é igual, mesmo que você passe sempre pelas mesmas ruas, pessoas e situações. Vida que quer correr solta por aí, dançando, dando cambalhotas, fazendo piruetas, caretas e declarações. Vida que quer ser novidade a toda hora e sem qualquer custo. Porque a novidade está aí bailando pelo ar que circula gratuitamente por todos os lugares alimentando as flores e a gente mesmo.
E não fui eu que inventei isso, nem a Vanda, nem ninguém, porque há coisas que não precisam ser inventadas. Apenas percebidas, para então ser apreciadas e finalmente sentidas.
Perceba a novidade! Aprecie a novidade! Sinta o quão bom se é quando a felicidade não precisa ser caçada, apenas sentida dentro de nós mesmos. A novidade te encontra sempre e o que você faz? O que você vê? O que você diz?
Faço tudo novo, vejo tudo diferente e digo: é novidade porque nada acontece duas vezes da mesma maneira. Nenhum olhar, nenhum beijo, nenhum encontro, nenhum esbarrão, nenhuma palavra... a força do que se diz não está no que se fala, mas da forma que as palavras passeiam pelo vento. E isso, é para mim e para nós, mesmo que você não veja, não sinta e não aprecie, isso é sempre uma grande novidade!
Wanderson Nogueira
Observatório
Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.
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