Nova Friburgo – FelizCidade

quarta-feira, 16 de maio de 2018
Foto de capa

Uma plenitude inexplicável me invade quando atinjo a altura do km 67 da RJ-116. A última curva daquela serra é também a última para chegar ao paraíso. O que vem depois daquela curva é céu. Não por ser o topo do mundo, nem por ser o abrigo das estrelas. Não porque o dedo de Deus aponta para lá, tampouco por ser centro de todos os rios desse planeta Rio. Mas porque lá é cena perfeita dos pintores, inspiração dos poetas e fonte de melodia dos cancioneiros. Porque ali é manancial de saber, é parque onde brotam frutos, é dinamismo aflorando terreno de infinitas possibilidades. Para além dali, daquela curva, é mágica, firmamento. Neste instante, se adentra o portal para novo espaço. Único, extraordinário e intenso.

Muitas trovas já foram escritas sobre esse lugar e ainda que as aprecie, nenhuma consegue explicar o que sinto. Meu coração se pudesse escrever talvez diria, mas não sei se os homens saberiam entender a sua língua. Eu não sei traduzir o que meu coração diz a mim mesmo. Apenas sinto com a certeza dos que amam, sem poder repassar o sentimento que me flutua. Por ele passeia um nome... Entre o exprimir e comprimir revela-se, então: Nova Friburgo! Todo o mais não se é possível exemplificar, explanar, elucidar ou esclarecer. Clareza somente na emoção que advém desse ecoar entre o comprimir e exprimir no peito: Nova Friburgo!

São as montanhas, mas também são os vales. São os rios, mas também as águas velozes que correm de suas cachoeiras. São as flores, mas também o colorido de suas árvores. São as pessoas, mas acima de tudo a história de sua gente. São os paralelos de seus caminhos, mas também os canteiros de suas praças. São os seus morros, mas também o contorno de suas catedrais. É o seu vento, mas também o frio de seu suspiro. É a fumaça de suas fábricas, mas ainda mais o sopro de névoa de suas florestas. É um cão sentado, mas muito mais o futuro ávido por ser caminhado. É o vulcão com uma ilha dentro, mas uma ilha que clama para ver além das montanhas.                       

“Parada de um caminho...” Mas qual caminho se aqui é parada final? O que fazer e ser? No ritual da vida é preciso se perguntar, mas para responder é preciso muito mais do que apenas sacar suspeitas. Respeitar o maior símbolo desse céu é norteador. O maior símbolo são as pessoas que nele habitam. Pois a casa vazia, por mais que seja bela, é apenas um conjunto de paredes gélidas. As pessoas, portanto, é o que caracterizam um lugar e formam nosso povo. Porque são as pessoas que fazem uma cidade e pelas pessoas se constrói a sua história. Uma cidade não se faz por feitiço ou conjunto de acasos. Na sua caminhada tem o humilde passo de cada um de nós. Dos que vieram antes de nós. Dos que virão depois de nós. Por isso, é preciso que continuemos caminhando. Mas caminhar para qualquer lugar só pela obrigação de caminhar não é aceitável.

Perdemos muito tempo nos últimos anos caminhando em qualquer sentido, sem direção. Isso não é mais concebível. 2011 nos alertou de forma cruel. Os 200 anos são convite. Que seja um ritual de passagem para a maior missão desde a vinda dos povos de além-mar. Nessa missão, revisitar a história é essencial para aprender com ela. Entender que Nova Friburgo é mais do que se aprende na superficialidade da história contada em míseras linhas. Reencontrar essa história magnífica para se inspirar nela mais do que se prender a ela. Dos suíços aos escravos. Dos alemães aos 220 volts. Dos operários à capital da moda íntima que também é das flores, dos cadeados, da couve-flor, do morango, das trutas... Nessa revisita ler com a criticidade que corrige para descobrir essa unicidade que lança um desafio no presente: se olhar no espelho.

Antes de se olhar, aceitar que nem sempre se vê imagem que satisfaz. Se olhar no espelho requer coragem para aceitar aquilo que o espelho reflete. Ao olhar-se no espelho, perceber que é preciso enxergar para além do conforto das montanhas que protegem. E é na fuga desse comodismo que, de repente, avista-se a existência de um imenso horizonte a se voar. Voar é possível e na sua possibilidade há de se sair do lugar fácil de ilha cercada por verde aconchegante. Magnífica é a experiência de ver nascer essa ousadia que reconhece vocações e transforma potencialidades em realidade.

O futuro se apresenta então e encará-lo é tomar seu papel para construir verdadeiros legados que nos presenteiem felicidade para além, muito além, da poesia imaginativa. O futuro de todos, onde todos possam construir a cidade que se quer mais do que estipular a cidade que não se quer. A partir dessa construção unir sonhos particulares numa particularidade singular que redescobre e redefine em realidade o céu que vem logo após a curva do km 67 da RJ-116. A última curva para o firmamento. Para além dela, lugar único, extraordinário e intenso.

Quando eu era criança, eu ficava encantado quando se falava o nome de Nova Friburgo. Não tenho mais idade de criança, mas o meu espírito infantil continua a sorrir quando Nova Friburgo é destaque para fora de si mesma. Minha memória afetiva me impulsiona a ser aquela criança que vibrava com cada gol do Friburguense, ao sonhar animado Nova Friburgo alcançando o que seu destino vislumbrou. Orgulho pelo que pode ser, porque já respiro a pretensão do que será. Meus sonhos não são mais tão ingênuos como outrora, mas permanecem vívidos... No auge de sua juventude - ainda mais ávidos. Nova Friburgo é o céu que vem depois de outro céu. Nova Friburgo é o melhor lugar de todos os lugares. Nova Friburgo para além de toda a poesia - realidade. Amor fantasiado em paixão para ser o que é: amor apaixonado. Nova Friburgo – FelizCidade!

TAGS:
Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.