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Música triste
Às vezes é difícil seguir em frente e desligar a música triste que toca. Tão fácil, simplesmente, seria desligar a música triste. Mas não dá, porque você quer que a música triste ecoe para respeitar o momento que te visita.
É preciso respeitar cada momento por mais que se queira fazê-lo passar rápido. A intensidade é o melhor que há em viver, seja a dor ou a alegria, o choro ou o sorriso...
Só há um modo de viver: vivendo!
Há dias que a felicidade nos visita e que a festa preenche o lar. De repente, a felicidade nos escapa, a festa esvazia e o silêncio não deixa dormir. É quando você está com você mesmo que as perguntas lhe enfrentam e a ausência de respostas te mostra que há linhas do caderno que simplesmente não se preenchem.
Pra que entender de tudo? Pra que querer entender de coisas que não foram permitidas a nós entender?
Não é voando que se sente livre e é lutando que se conhece. E conhecer-se é o único objetivo que temos aqui! Temos uma chance. Apenas uma chance de explorar as ofertas que nos são concedidas. E é preciso olhar atento!
Cada dia nos concede uma infinidade de possibilidades, cores, sabores, encontros. Laços que se fazem naturalmente e que pela mesma selvageria da natureza, de repente, se desfazem. Sem qualquer explicação, se desfazem.
Mas se quiser só a busca pelo entendimento não se chora. Se perde muito tempo querendo porquês que não se respondem, lamentações que não corrigem ou mudam os fatos. Não adianta culpar, nem se desculpar. As lágrimas também precisam ser libertadas. Libertar as lágrimas e a dor é o único entendimento que se tem que ter.
Teorizar os fatos da vida é uma perda de tempo e o tempo é escasso.
Deixa a música triste tocar. Não a interrompa, como não se deve pausar a música dançante. Quando ela vier e há de vir, deixa ela também tocar para ser dançada até o fim. Tudo tem o seu tempo. Todas as músicas têm o seu tempo de tocar...
Tempo ao tempo. Somos construção de arquitetura que não segue os livros ou um padrão. Pode ser que a obra acabe sem teto ou sem janelas ou talvez sem jardim. Mas ficarão as fotografias dos instantes e até da intenção de cada instante que não existiu. A lembrança permanece sempre! Até a lembrança de conversas cotidianas que raramente são repetidas em filmes famosos. Não somos filme, somos vida real que segue seu ritmo de altos e baixos, bailando de um extremo ao outro na sua viagem ao equilíbrio. Sonhos e perdas. Esperança e perseverança. Tudo se vai para se repetir até não existir mais.
Nenhuma lembrança é banal.
Tem certas noites que é difícil dormir. São quando os sonhos se dissipam antes mesmo de se fechar os olhos. Os pensamentos buscam razões como contraponto as emoções que, confusas, fazem tormenta no peito. É nessas horas que vem a certeza de que a alma existe. É preciso ter fé, ainda que ela teime em escapar. Como fechar os olhos para os acontecimentos que nos confundem?
Deixa, então, a música triste tocar. Logo, logo, uma nova música irá soar. Enquanto o repertório não muda...
Enquanto o repertório não muda, não há outra coisa com o que se preocupar. Iremos adiante, ainda que seja difícil. É preciso seguir... Haverá novas festas, mesmo que os próximos natais sejam mais vazios e sempre incompletos. Deixa a dor queimar a agonia. Deixa o mundo girar na sua velocidade. A roleta russa da natureza gira e é cruel, mas não se pode condená-la como infame. Permita à natureza sua incompreensível complexidade. A árvore da vida também perde as suas folhas... Voam por aí até renascerem em outro lugar. Enquanto isso, deixa a música triste tocar, a alegre ainda há de vir, ainda há de retornar.
Tudo tem o seu momento. É preciso viver cada música intensamente. Haverá novos dias em novos mundos... Há de ser feliz a próxima canção!
Wanderson Nogueira
Observatório
Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.
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