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Meios
O mundo é uma história da qual talvez eu não conte o fim, mas estou aqui para ver, contar e perpetuar o meio. E o meio é o que importa. É o meio que permite que o início se prolongue e é o meio que leva a um fim. O meio pode não ser o destaque da história, mas é o que de fato preenche a história.
Eu sou o meio de tudo, o sopro que venta, o tempo que tempera, a via que se abre, o acontecimento que envolve. Você é o meio para alguém, o vento que refresca, o sabor do tempo, o mapa para o caminho, o fato que intitula capítulos.
Somos meios para que outros alcancem a felicidade como somos meios que permitem a felicidade germinar. Somos meios para que os milagres aconteçam e a vida por nós passe antes de ser morte.
Somos meios que se tornam inteiros ao juntar nossos braços, ao unificar nossas faces. Somos meios uns para os outros.
Somos o meio pelo qual o mundo escreve sua biografia, por mais que sejamos levados a crer que não temos nada a ver com isso. Mas somos o meio do mundo, estamos no meio da história, somos o meio de Deus, qualquer Deus que seja esse que nos concede o livre arbítrio. Somos a ausência da culpa, como a presença da responsabilidade. Somos esse meio que machuca, cura e salva. Somos o meio desse diálogo interminável, pois o meio é extenso e é bom que seja, pois ao findar deixa de ser meio para sacramentar o fim. E o meio deixará saudade, causará nostalgia da qual somos cúmplices confessos, porque por mais que almejemos o fim, é no meio que realmente vivemos e vivendo é que somos realmente felizes.
Estamos no meio de tudo, mas podemos também estar no meio do nada. Estar no meio da conversa, no meio da cena, no meio da grande roda que é a vida, no meio do ciclo, no centro do meio. O tal do olho do furacão, nesse meio intrigante cuja resposta sempre está no futuro, mas cujo enigma se estende mesmo é no meio e que no meio começa a se desembaralhar, sem exatamente se organizar em paralelas possíveis de leitura.
E não quero as respostas que procuro, porque amo a procura, e não quero o fim como finalidade, pois me divirto é com o meio e o meio é que me seduz, me desnuda e permitidamente me invade.
O meio não é o refrão da canção, mas é o que leva a ele. O meio é o recheio, é a frase que escondida se torna marcante, é o que dá sabor, é o que anoitece o dia, é o feito, é o pódio, é o que determina o que somos e o que queremos ser, sem termos a pretensão de chegar ao fim. No meio somos nós mesmos, mutáveis como o próprio meio. E eu quero o meio de tudo, quero ser meios de levar ao grito e também ao silêncio que canta.
Mas não me peça para ser meio meio, pois saiba que não há meia dor, meio abraço ou meio beijo. Se é meio, não é amor, se é meio não é morte e também não é vida. Não falo do meio que é metade ou próximo de ser inteiro. Falo do meio que somos para nos tornarmos completos ainda que aja jornada, como sempre haverá. Falo do meio que se faz por mútuas necessidades livres. Do meio que sou para um e desse um que é meu meio. Meu meio de sentir, meu meio de estar vivo, meu meio de chorar e extrapolar essa dor e essa alegria. Meios sem metades, meios por inteiro.
A vida mostra meios e certas coisas têm que acontecer para mudar outras. E esse fato, esse acontecimento importante não se dá no início, nem no fim, mas no meio. É o meio que muda tudo, é o meio que define o passado, escolta o presente e determina o futuro. O meio da história, os meios que vivemos, os meios que servimos, os meios inteiros que nos concedem os dias e os outros meios dos quais nos aprisionamos livremente.
São esses e outros meios que estipulam o quanto somos meios felizes e para felicidade, definindo o quanto o nosso meio é e será repleto.
Wanderson Nogueira
Observatório
Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.
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