Janeiros atrás

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

O cheiro. O cheiro de morte. O cheiro forte da poeira que antes foi lama. Lembro tanto daquele cheiro pelas ruas e avenidas assistidas pelas pedras arranhadas. Choraram tanto as montanhas. Choraram igualmente cada homem e mulher e criança da montanha. Alguns se lembrarão pouco dos cheiros, mas recordarão do paladar seco ou da visão da guerra que não era civil, de homens com outros homens. Uma guerra para sobreviver à perda dos seus. E perdemos tantos que monumento algum pode abrigar essas memórias partidas, mas ainda presentes mesmo tantos janeiros depois.

Já são seis. Ainda ontem foram cinco. Amanhã já serão sete. Daqui a algum tempo serão dez, quinze, trinta. O fato é que mesmo que os cheiros cessem das lembranças, mesmo que a presença do paladar ou da visão deixe de castigar, ainda estará doendo o 11 para 12 de janeiro de 2011. Um dia que devastou tantos outros. Nossa Friburgo, Nova Friburgo jamais poderia ser a mesma.

Da dor a saudade. Da saudade as lições. Das lições aprendizado. Do aprendizado a esperança. Com a esperança se faz novas práticas que se tornam necessárias para seguir. E a vida segue em frente sempre. Reconstruir nos primeiros passos, mas renascer nos seguintes é essencial. Friburgo busca ser nova de novo. De maneira diferente da de quando foi formada por suíços. De nova forma para além de sua reinvenção com os alemães, africanos, libaneses, austríacos, portugueses, japoneses e cada povo que sua semente aqui plantou. Agora é com cada um de nós: friburguenses brasileiros. A oportunidade de se fazer nova permanece à espreita. Coragem. Sonhos requerem muita coragem. Se tiver audácia então. Respeitando a história, mas escrevendo uma nova história.

Fé! Fé não se pode levar no bolso. A morada da fé está no coração e a ação vem por cada uma de suas estradas que guiam a mente e fazem mover pernas e mãos. Ao trabalho. Avante! Janeiro agora é para nós como maio. Fundação e refundação. Nascimento e renascimento. Confiança no futuro, própria de quem acredita no amanhã e aposta todas as suas fichas no hoje e agora. Deixemos nos contagiar pela força que advém do amor e que um amor afete ou outro até que todos estejam envoltos nessa luz de uma cidade que foi posta nas estrelas. Tão pertinho do céu... Dentro do próprio céu. Contradizer seus versos é preciso. Não são degraus colocados na altura, nem escadas que vão para o céu, é o próprio céu. E no céu, tudo é possível de se fazer! Façamos.

A felicidade é o nosso destino coletivo. Estamos a caminho de reencontrar nossos passos para fazer novos caminhos de uma nova cidade com o mesmo povo. Na beleza das montanhas, cachoeiras e de todo verde que nos circunda a esperança de que janeiros atrás são a mola que nos impulsiona. Para a frente. Em respeito aos que fecharam uma parte da história e ficaram nela. Em reconhecimento às memórias descritas até o fim daquele livro. Mas estamos no intervalo para iniciar essa nova história de ser grandiosa, porque esse é o seu instinto. E, gloriosa, pois esse é a sua única possibilidade – Nova Friburgo.           

TAGS:
Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.