Invente

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Um dia desses faça algo que nunca fez. Assim, sem planejar. Assim, sem pensar. Convide alguém que você acabou de conhecer para sair. Tomar umas, passear pela praça, apresentar a cidade pela sua visão e pedir que lhe apresente também uma rua que ainda não conhece. Mas se te apresentar um beco já visitado, permita que a visão alheia faça você viajar por uma nova rota.

Seja você mesmo! Com tudo que tem: piadas, dramas, alegrias, medos... Deixe ser descoberto por completo e, de repente, se descubra. Um ser único cheio de defeitos e qualidades que ninguém mais tem. Pode até ter de forma semelhante, mas suas manias e talentos são exclusividades suas.

 Brinque. Se jogue. Lance pela janela as bugigangas que pesam e dance na sacada com as quinquilharias que tornam leve a neblina que se faz voar. Se arrisque. Bobo e ingênuo. Um artista do cotidiano que faz malabarismo com as horas. Sim! Pegue esses minutos e passeie neles como o vento contorna as rosas do jardim de camélias. Esqueça a matemática, mas tenha nela uma aliada para contar as moedas e fazer desses trocados chocalho para a roda de samba imaginária do bar da esquina. Sambe sem saber sambar. Cante como o compositor de cordel que inventa as rimas no bocejo do dono da banca de jornal que fica do outro lado da avenida. Coloque novas letras na música que reconhece o ritmo, mas que não sabe cantar com exatidão. 

Invente. Re-invente a roda sem querer fazê-la triangular. Quadrada, talvez. Por que não? Aproveite as boas invenções, como a iluminação que vem da lâmpada, e, aprecie a voz que passa pelo telefone. Mas se alegre ainda mais com a luz do sol e das estrelas. São lindas. E podem ser bem diferentes dependendo de onde e como você as vê. Suba a montanha. Vá ao riacho e veja a água transportar a lua. É prata? É branca? É ouro! Aquela voz é seda, é leve, é sinfonia, ainda que cause tufão no peito, poesias no estômago e arrepio nos pelos da pele ruborizada pelo encanto que não se entende. Desconsidere a tola necessidade de explicar ou ter que ter porquês.    

Desinteressadamente, faça o que tem que ser feito, sem a pretensão de conquistar, sem o receio de perder, mas com a gana de quem faz. Incentive a criação da história e seja a boa história que se conta na roda de crianças. Mas saiba que toda história tem dois lados. Escolha um lado, fique de lado, respeite o meio. Felicidade é só querer...

Tire uma folha do trevo de quatro folhas. Azar é não se atrever. Atreva-se a ser moleque na molecagem infantil de quem goza dos apelidos que ganha e das piadas que ninguém ri, mas que se presta atenção. Não finja saber. Saber de mais é um saco, mas querer conhecer faz você ganhar a boa fama de curioso. Na curiosidade indicam onde mora a sabedoria.

Desperte. Enfrente sem confrontar. Faça careta no espelho. Fique nu. Sem armaduras que protegem a alma, o amor te chega e deixa a paixão achegar. Pague paixão. Abandone o jogo. Porém, se jogar até o fim, permita que se virem as cartas da mesa. Mas se quiser tampar os olhos para não ver... Espie entre os dedos, torcendo o nariz mesmo. Sorria. Simplesmente, sorria. Podia ser bom, mas o que vem depois da esquina pode ser melhor ainda. Navega um barquinho nesses olhos? É de papel. Não demora muito para dissolver. Então, deixa escorrer para limpar.

Invente o seu mundo e convide muitos para essa festa. Desconhecidos, mas sem deixar de chamar os que vêm sempre que chamados e que batem na porta, mesmo quando não convocados. Aqueles velhos conhecidos que até se esquece de chamar para um happy hour de terça-feira em dobro, mas que a gente nunca esquece o nome ao olhar fotografias nos velhos álbuns da gaveta da memória. Tenha saudade e refaça a nostalgia nesse presente que vive sendo palpitado pelo ontem da semana retrasada ou da década passada. Aí, você compreende que inventar é muito fácil, principalmente quando percebe que, na verdade, você sempre foi um genial inventor.

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Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

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