Imagine que pode voar

Pelos próximos meses, a jornalista Laiane Tavares assina a coluna no lugar do titular Wanderson Nogueira. A Justiça Eleitoral determina que candidatos nas Eleições 2018 não podem apresentar, participar ou dar nome a programas de rádio e TV. A regra não se aplica aos órgãos impressos. Mesmo assim, o colunista e A VOZ DA SERRA, em comum acordo, optaram pela alteração neste período. Wanderson Nogueira volta a assinar o Observatório em outubro, após o período eleitoral.

-Vó, sonhei que estávamos voando. Você e eu abrimos a janela e do nada eu disse “Vamos voar?”, mas eu acordei antes de saber se a gente podia voar.

Essa foi parte de uma conversa aleatória de duas desconhecidas que me capturou durante um almoço essa semana. Naturalmente vários outros diálogos ocorriam no restaurante. O que me encantou neste, em particular, foi sua leveza. Havia um outro grupo que disputava a atenção geral do espaço no horário de almoço falando sobre política, se você acompanha minha coluna, provavelmente já deve saber que esse é sempre um tema de interesse para mim. Mas a forma sem esperança como as pessoas tratam a questão, os discursos de ódio, o voto pela violência, a ação cidadã capturada por uma intenção excludente, é coisa pra gente estudar, não para agregar à digestão.

Por isso, em meio aquelas palavras de ódio que cortavam o ambiente, ouvir alguém falando sobre sonhos foi tão reconfortante. Estamos sempre procurando sinais para seguir acreditando, mas no meio de toda essa convulsão social, às vezes a gente esquece que a vida é sobre sonhos. A realidade não deveria importar tanto, melhor, não deveria ser tudo. Ela não pode ser encarada como fim, mas como caminho, um caminho de transição, um instrumento para imaginar além. Sonhar!

O que nos impede de sonhar, no entanto, é essa produção diária de urgências. Tudo é para ontem. Uma vida vivida assim faz a gente pensar que não existe nenhuma outra possibilidade. É preciso sonhar, sonhar acordado, pensar, refletir, guardar um tempo do dia para imaginar como seria se fosse. E então se convencer de que ainda pode ser.

Talvez não tenhamos tempo para descobrir se no sonho a gente podia voar, mas só de acreditar que a gente pode poder outras coisas, já valeu a pena sonhar, já foi mais leve que a rotina, mais gentil que a realidade, mais esperança do que medo.

Pelo menos uma vez ao dia, imagine que pode voar! As vezes começa como um sonho, como uma possibilidade remota, fruto de uma imaginação audaciosa e inconformada, da mente de alguém que identifica um futuro mesmo onde não estará. E de repente estamos voando, em grande escala todos os dias, atravessando os céus e explorando o universo. Todo sonho é uma possibilidade, nossa história prova!